11 outubro 2019

QUAL O PROBLEMA COM A VENERAÇÃO ÀS IMAGENS RELIGIOSAS?

Alguns "santos" católicos
Qual o problema em se possuir ou venerar uma imagem religiosa? Não foram as pessoas representadas por elas cristãs e servas de Deus exemplares, as quais inspiram a fé dos que lhes veneram? Bom, fosse assim na prática como no discurso, realmente não haveria muitos problemas, pois veríamos pessoas esclarecidas e plenamente conscientes de que a honra, a glória e o culto cristão só se presta a um Ser: ao próprio Deus. Contudo, isso não é assim quando investigamos criteriosamente as atitudes da maioria esmagadora das pessoas em relação às imagens religiosas.
Há muito que os padres justificam o uso de ícones no culto católico-romano dizendo que lá atrás as imagens eram "a Bíblia dos iletrados". Bom, isso foi lá na Idade Média na qual realmente eram muito poucos os que sabiam ler e escrever. Contudo, em pleno século XXI, essa evasiva ainda serviria para justificar a intensa relação dos católicos com as imagens que dizem apenas representar "aqueles que estão lá no céu?".
A verdade é que embora os padres - especialmente os jesuítas - tentem eufemizar a clara e cristalina prática de idolatria no culto às imagens, o fato histórico é que a devoção às mesmas não tem embasamento na doutrina apostólica - embora a igreja romana assim se intitule.
A adoção das imagens como representação do sagrado surgiu e foi difundida a todas as culturas antigas através do paganismo. E por que o paganismo adotou esta forma esdrúxula de reverenciar o sagrado? É que após a Queda de Adão o homem foi perdendo cada vez mais a noção sobre o único e verdadeiro Deus. A sensibilidade espiritual foi ficando cada vez mais turva e obscurecida, embora antes que a Bíblia começasse a ser composta por Moisés em cerca de 1600 a.C., a tradição oral sobre Deus ainda pudesse ser conservada. Mesmo na época de Noé (Gn 6.1-8), ainda não vemos vestígio de idolatria nem de um nascedouro de algum sistema religioso organizado. O ser humano, como dizem as Escrituras, tornara-se corrupto moralmente falando, violento e fanfarrão, mas não idólatra.
Muito provavelmente foi em Babel (ou Babilônia), através de Ninrode, o primeiro ditador da história (Gn 10.8-12; 11.1-9), que o primeiro sistema religioso humano começou a ser organizado. Os intentos deste descendente da terceira geração de Noé e seus maléficos planos de rebelião aberta contra Deus incluíam não somente criar uma sociedade antiteocêntrica, mas um culto que desafiasse Àquele que merece toda honra e toda glória. A maioria dos estudiosos e pesquisadores é unânime em afirmar que a famosa Torre de Babel se tratava de um "templo" idólatra em direção ao céu. Quer dizer, o objetivo de Ninrode era promover a adoração aos astros e corpos celestes. Isso a princípio foi frustrado com a confusão das línguas, mas dentro de pouco tempo surgem os primeiros deuses - não sem razão - ligados ao culto idólatra do que a Bíblia denomina "exército dos céus". Baal, por exemplo, era identificado antigamente ao Sol e assim como este astro quase sempre foi considerado o rei do universo, o próprio teônimo "Baal" no hebraico e outras línguas semíticas antigas significa "senhor" ou "aquele que governa" ou "ele possui", neste aspecto com o sentido de dono, marido. Mais tarde, com a propagação do culto a esse deus em outras culturas pagãs, ele vai ser associado aos planetas Saturno e Júpiter, bem como vai receber diferentes denominações como Baal-Peor entre os moabitas. Não sem razão este mesmo conceito denominacional de aculturar o mesmo deus ao local e à cultura aonde ele foi absorvido, foi adotado no catolicismo romano para designar as várias "manifestações" e "aparições" de Nossa Senhora pelo mundo - evidentemente católico. Em Portugal ela recebeu o título de Nossa Senhora de Fátima; na França de Nossa Senhora de Lourdes, no México de Nossa Senhora de Guadalupe, no Brasil de Nossa Senhora Aparecida, etc. Curioso é que ela nunca apareceu num país de maioria protestante. Por que será?
Mas voltando à nossa linha de raciocínio inicial, a idolatria surge num primeiro momento como uma afronta ao Criador. Com o tempo, ela encontra guarida na vida dos povos pagãos pela necessidade intrínseca do ser humano em cultuar algo que lhe seja superior. O homem foi criado por Deus com a capacidade ímpar de se relacionar com o seu Criador, mas com a entrada do pecado no mundo aquele foi se afastando cada vez mais dEste e a saída para aplacar a consciência humana foi a criação de seus próprios deuses e sistemas religiosos. O culto às imagens é um expediente artificial de uma humanidade que perdeu a visão espiritual e agora tateia no escuro precisando do elemento físico e tangível para acessar o sobrenatural. E não adianta os padres lançarem mão de argumentos toscos e infantis para defenderem seus paroquianos da acusação de idolatria, porque no diálogo de Jesus com a mulher samaritana o Senhor deixou bem explícito a natureza da genuína e exclusiva adoração que Deus aceita. Quando o Mestre diz "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23), Ele está afirmando isso com base na premissa de que a essência do verdadeiro e único Deus é puramente espiritual, diz Ele "Deus é Espírito" (v.24). Embora sendo uma Pessoa real, Deus não é um personagem físico para que seja representando por meio de objetos físicos e tangíveis. Se a essência de Deus é espiritual, a única forma de adoração aceita por Ele é espiritual.
O culto às imagens - distinguido inutilmente pelos jesuítas em hiperdulia (veneração que se presta à Maria) e dulia (veneração que se presta aos santos) não sendo, segundo eles um caso de latria (adoração que se presta a Deus) - segue uma linha de pensamento em que seria possível adorar a Deus através daqueles que lhes dedicaram uma vida consagrada e piedosa. Pode-se chamar isto de adoração relativa. Mas será que Deus aceitaria uma forma de adoração indireta ou por procuração? Isaías registra de maneira inequívoca as palavras do próprio Deus em seu livro que "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome, a minha glória, pois a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura..." (Is 42.8).
Então o que se pode depreender claramente dessa assertiva divina é a impossibilidade do Criador ser honrado por intermédio de suas criaturas. O que acontece quando o ser humano presta culto a uma imagem é justamente o contrário: Deus é desonrado, pois é trocado inadvertidamente por suas criaturas - neste caso, as pessoas que outrora existiram e são teoricamente representadas pela arte religiosa. Concluí-se então que a apologia jesuítica não passa de um mero jogo-de-palavras, um sofisma para dissimular o afã idólatra de realmente tratar aquele objeto religioso como se fosse algo vivo. Vejam: a maioria absoluta dos católicos - estimo em 98% - cultiva a mais absoluta ignorância de quais sejam os parâmetros para se aferir o verdadeiro cristianismo. Na verdade, eles não conhecem profundamente nem a sua própria fé católica e muito menos se importam se o que estão praticando é genuinamente cristão ou não. Como geralmente são pessoas que vivem à margem da igreja, frequentando missas apenas ocasionalmente e por conveniência, eles possuem apenas uma concepção relativa da religião. Seus jargões mais famosos são que "o importante é ter fé" ou que "cada um com a sua fé".
Esses paupérrimos pressupostos têm até algum sentido quando o assunto seja o livre-arbítrio humano, mas não para caracterizar a autêntica fé cristã. Fé que se vê simplesmente não é fé, pois se o que se chama de fé é incapaz de dispensar o visível e o tangível, isto já deixou de ser fé, é incredulidade. Ao receber a notícia de que Jesus havia ressuscitado dos mortos, o apóstolo Tomé, vacilante, asseverou "Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei" (Jo 20.25). O contexto desta passagem diz que oito dias depois Jesus apareceu novamente aos discípulos e daquela vez Tomé estava presente (v.26). Foi então que o Senhor lhe jogou em rosto sua incredulidade "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado, não sejas incrédulo, mas crente" (v.27). Ao que Tomé agora convencido e censurado por sua fé condicional, exclamou "Senhor meu, e Deus meu!" (v.28). Jesus retrucou dizendo-lhe "Porque me viste, Tomé, creste, bem-aventurados os que não viram e creram!" (v.29).
É cristalino no contexto dessa passagem que fé não se apoia naquilo que vemos, mas no que não vemos. O autor da carta aos Hebreus ratifica isso ao dizer que "...a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem" (Hb 11.1). E ainda Paulo nos diz que o sentido a ser atingido pela fé é a audição e não a visão (Rm 10.17). Quando ainda novo-convertido, ouvia sempre certo pastor já veterano de minha cidade dizer no rádio "A fé crê no incrível, ouve o inaudível e vê o invisível". Nenhuma relação de fé dos grandes patriarcas, profetas e apóstolos da Bíblia foi pautada no visível. Uma das poucas exceções e ainda bem diferente do uso que se faz de imagens foi o caso de Gideão (Jz 6.17-22; 36-40).
O grande erro no uso das imagens religiosas é que em sua prática, o devoto canaliza para um objeto sem vida todo o seu esforço físico, psicológico, mental e espiritual no qual ele rigorosamente não faz nenhuma distinção entre venerar e adorar como sofismam os padres jesuítas. Na verdade, não existe nenhuma diferença entre os termos latino e grego no qual se pudesse distinguir adorar de venerar. Adorare no latim quer dizer render culto, reverenciar, venerar, amar extremosamente; lautreo no grego significa adorar, servir, prestar serviço sagrado. A própria palavra devoção, no latim devotione, segundo uma página católica da Canção Nova chamada formacao.cancaonova.com significa afeição, dedicação, sacrifício e culto. Ou seja, semanticamente não há diferença alguma entre adorar e venerar.
Curioso é que na mesma página católica, o autor do artigo intitulado "A Igreja Católica e as imagens", o palestrante, escritor e apresentador do programa Desenvolvendo Talentos, Daniel Godri Júnior, admite que em "quase dois mil anos" - um anacronismo proposital, pois a Igreja Católica possui na verdade 1.700 anos - a mesma cometeu erros e justifica tais erros tanto devido à sua longevidade quanto pelo fato de possuir 1 bilhão e meio de seguidores. Também admite em certo parágrafo haver uma exagero no culto às imagens, culpando a ignorância de muitos católicos como explicação para isso. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que ele afirma que a Igreja Católica enquanto instituição é "santa" e não erra, ele admite em outras palavras que muitos católicos acabam mesmo por praticar idolatria por ignorância ao se excederem em sua devoção às imagens. Ora, se o Magistério católico é responsável por nortear as práticas dos fiéis, quem errou? O vento? Se os ignorantes praticam idolatria por desconhecimento, por que não os ensinar? Se mesmo a Igreja ensinando-os continuou a haver erros, por que não cortar o mal pela raiz banindo o uso das imagens no culto católico?
O autor comete o velho e falacioso desatino de citar os casos da serpente de bronze que Deus mandou Moisés construir no deserto como tipo do sacrifício de Cristo (Nm 21.4-9) e dos querubins de ouro que foram postos no propiciatório sobre a tampa da arca do concerto (Êx 25.10-22) para justificar biblicamente o uso das imagens pelos católicos. Não quero me deter nesse assunto, pois tornaria o artigo longo demais. Entretanto, basta dizer que quando os judeus quiseram cultuar a mesma serpente de bronze muitos séculos mais tarde (igualmente como os católicos fazem com suas imagens) o justo rei Ezequias procedeu à sua destruição (2 Rs 18.4). Quanto aos querubins do propiciatório, eles ficavam isolados junto com a arca do concerto no compartimento mais restrito do tabernáculo, o santo dos santos, onde só o sumo-sacerdote tinha acesso uma vez por ano. Nenhum israelita, mesmo que quisesse, tinha como "venerar" tais anjos os quais simbolizavam a santidade de Deus no AT; e se o fizessem, certamente seriam imediatamente fulminados, pois seria uma caso de idolatria.
Como dissemos antes, a adoção das imagens pela Igreja Católica foi uma herança, uma espécie de reminiscência do paganismo no seio da cristandade. No ano 375 - portanto, exatos 50 anos após Constantino ter fundado o catolicismo romano -, foi introduzido o culto aos santos como resultado de um sincretismo com o culto pagão de seus deuses e deusas. No ano 787, no segundo Concílio de Niceia, convocado pela imperatriz Irene é que se estabeleceu oficialmente o culto aos santos e às imagens. E no ano 993 deu-se a famigerada canonização dos santos, uma escusa forma do catolicismo manter o seu nefasto domínio político, religioso, e econômico sobre as nações nas quais prevalece.
Para encerrar, ainda tentando defender a Igreja Católica da acusação de idólatra, o mesmo Godri Júnior afirma que o erro católico não é fabricar as imagens e sim as idolatrar... Trata-se de um total nonsense equivalente a dizer que um ladrão que invadisse a sua casa armado não cometeu crime, pois não conseguiu levar nenhum bem o qual lhe pertence. Por isso, o Decálogo em seu 2º mandamento é claro ao proibir primeiramente o fazer, pois em fazendo o ser humano não consegue ficar imune à tentação de cultuar a tal imagem (Êx 20.4,5). Não à toa vemos o Sl 115, na plena acepção da palavra escarnecendo das imagens dizendo que elas têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; têm garganta, mas som nenhum sai dela. E arremata dizendo que tanto os que as fabricam quanto os que as cultuam (dirigem-lhes preces, louvores, acendem-lhes velas ou se ajoelham diante delas) tornam-se iguaizinhos a elas: têm fisicamente todos os órgãos necessários para os cinco sentidos, mas perderam completamente a sensatez, trocando estupidamente o Deus vivo por um objeto inócuo e sem vida.   
                                       

                       

31 agosto 2019

MARIA É "MÃE DA IGREJA"? - SOBRE O TEMA DO CÍRIO 2019

O cartaz oficial da maior romaria católica do mundo
Como página de apologética cristã precisamos nos posicionar e opinar sobre qualquer movimento ou prática religiosa que em nosso ponto de vista destoa da verdade absoluta do Evangelho e isso inclui temas que, uma vez abordados, acabam por se tornar polêmicos tanto pelo desconhecimento do que seja o genuíno cristianismo, quanto pelo relativismo religioso que caracteriza a sociedade atual. O que iremos dissecar sobre o Círio de Nazaré e em especial sobre o seu tema deste ano, passa longe de qualquer intenção de julgar ou condenar as milhões de pessoas que participam dessa tradicionalíssima romaria realizada  a cada segundo domingo de outubro em Belém do Pará. Reconhecemos a grandeza dessa manifestação católica e sua importância cultural, social e econômica para o estado do Pará que em números absolutos de pessoas envolvidas só deve perder para o Mês de Hamadã, o ápice do calendário muçulmano realizado em Meca. A nossa intenção, destarte, é tão somente analisar a prática e, neste caso específico, a declaração do belo cartaz e suas implicações dentro do escopo do Evangelho e da revelação bíblica.
A declaração da Igreja Católica de que Maria é mãe da Igreja não é nova nem tão antiga quanto a de que ela é "mãe de Deus"*. Intui-se de que pelo fato dela ser mãe de Cristo e Este ser biblicamente declarado O Cabeça da Igreja (Ef 5.23) - que é O Seu corpo místico -, ela também é mãe da Igreja e assim de todos os cristãos. Isso é tanto um silogismo (um erro de lógica) quanto uma doutrina anti-apostólica.
Durante o Concílio Vaticano II, realizado em 1964, o papa Paulo VI declarou "Maria é Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos pastores". E em 30 de junho de 1968, ele ratificou isso ao dizer: “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu a sua missão maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”.
A suposta base bíblica desse dogma católico-romano é o texto de João contido em Jo 19.26,27, o qual diz "Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: eis aí a tua mãe".
Refutar tais assertivas católicas nem é tão difícil assim, mas antes de tudo precisamos ter em mente que Maria ocupa na teologia de Roma uma posição privilegiada que a confere um status, no mínimo, semidivino que enseja o desejo de alguns de elevá-la a uma espécie de 4º membro da Trindade. Na doutrina romana, Maria não é somente colaboradora no processo da redenção como outros personagens bíblicos como Noé, Abraão, Moisés ou Davi. Ela é fundamental e ativamente participativa como na declaração do papa Paulo VI acima. É por isso que no meio católico vemos frases tipo "peça à mãe que o Filho atende", "rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte". É o que denominamos "mariolatria", mas que os católicos se negam a admitir se escusando ao dizer que apenas veneram a mãe de Jesus - o que na prática é rigorosamente uma inverdade.
Todo o plano de redenção da humanidade foi arquitetado na eternidade, onde através de Sua presciência, Deus previu a infeliz escolha de Adão e Eva no Éden (Ap 13.8b). Toda a Santíssima Trindade esteve envolvida na consecução desse plano, mas é comum e bíblico dizer que o Pai planejou a salvação nos céus; o Filho executou-a na cruz e o Espírito Santo torna-a realidade na vida do pecador arrependido. Entretanto, o suposto papel mediativo de Maria foi se inserindo na devoção popular como uma reminiscência do culto pagão prestado à Diana, deusa da caça a quem os gregos que legaram essa tradição aos romanos chamavam Ártemis. Pode-se dizer que o povo sugeriu e com o tempo o magistério católico formalizou teologicamente tal desvio. Porém isso só foi possível porque um cristianismo institucionalizado pelo Estado foi gerado a partir do Concílio de Niceia, realizado em 325.
A partir dali a pureza doutrinária do cristianismo foi sendo sacrificada pelo fato da genuína conversão ser substituída por simples decretos imperiais. Decretos humanos evidentemente não iam transformar a natureza pecaminosa de ninguém. Assim, muitos não conversos passaram a adotar um cristianismo nominal e sincretizado somente para gozar das benesses estatais, visto que Constantino Máximo passou a desencorajar o paganismo fechando templos pagãos e ordenando a construção de templos cristãos.
Essas pessoas que travestiram-se de "cristãos" a partir de então trouxeram consigo toda as suas mazelas pagãs procurando acomodá-las à "nova fé". Entre elas estava a devoção a uma divindade feminina que anteriormente tinha sido a "Diana dos efésios", mas que passou a encontrar em Maria de Nazaré uma assimilação conveniente para a sobrevivência dissimulada da crença. Daí podermos afirmar que a mariolatria não foi originada nas páginas da Bíblia, mas sim na crendice popular.
Um fato importante a registrar aqui é que os pagãos tinham uma relação materno-filial com essas divindades femininas, já que o próprio imperador romano era considerado divino justamente por ser filho de Júpiter (o mesmo Zeus grego). Quando um pagão prestava culto à Diana, sempre tinha-a em mente como sua protetora e mãe. Esse conceito foi transposto para a figura de Maria e ela passou a ocupar uma proeminência afetiva nos sentimentos populares. Mais tarde, já durante a Idade Média, esse conceito vai ser corroborado quando se achou em Maria uma espécie de contraceptivo terno ao iracundo e punitivo Deus pregado pela igreja papal. Assim, a humilde Maria foi cada vez mais sendo transformada em objeto de adoração, embora os monges jesuítas tenham tentado encontrar um meio de dissimular a prática de idolatria dando ao culto de veneração que se presta à Maria o título de hiperdulia e diferenciando-o de latria, o culto que se presta somente a Deus.
Mas outro fato que precisamos trazer à tona aqui é que embora Maria seja de fato e de direito a mãe da humanidade de Jesus, as Escrituras do Novo Testamento não conferem a ela qualquer função co-sacerdotal e co-mediativa no processo da salvação. Esse papel é exclusivo da Trindade divina, pois só Deus pode salvar. Maria é bem-aventurada (Lc 1.48) por ter sido escolhida para ser a mãe do Salvador, mas não a mulher mais bem-aventurada que exercesse por esse fato uma posição preponderante sobre os demais cristãos (Lc 11.27,28).
Apelar para o fato de que o anjo Gabriel chamou-lhe de "bendita entre as mulheres" (Lc 1.28) nada dispensa a ela o protagonismo que a Igreja Católica lhe confere, já que Jael, mulher de Héber, também foi chamada exatamente assim (Jz 5.24).
Por mais esforço que os apologistas católicos façam para forjar uma teologia mariana na Bíblia, a verdade é que eles ficam meramente obrigados a agir exatamente como qualquer seita virulenta medíocre como os mórmons ou as testemunhas de Jeová a fim de darem uma "aparência bíblica" à sua ânsia de adoração idólatra à Maria. E isso fica evidente no texto joanino o qual eles lançam mão para tentar embasar biblicamente o dogma de que Maria é mãe da Igreja.
Na passagem em xeque (Jo 19.26,27) há um contexto social e cultural que nenhum estudante médio das Sagradas Letras deve ignorar.
1) Jesus era o primogênito de Maria e sendo mais velho era o principal responsável por sua mãe (Mt 1.25);
2) À altura dos acontecimentos da crucificação de Jesus, 33 anos após o Seu nascimento, José, seu padrasto já devia ter falecido, pois na sociedade judia daquela época era comum que homens bem mais velhos desposassem mulheres muito jovens;
3) Embora Maria e José tivessem tido filhos textualmente referidos nos evangelhos como Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13.55), estes meio-irmãos de Jesus não criam Nele (Jo 7.5) e seria mais recomendável deixar Sua mãe aos cuidados de um discípulo - pois Maria era crente - do que com os próprios filhos incrédulos;
4) João era o discípulo mais afável e sua atitude na Ceia de recostar a cabeça no peito de Jesus demonstra intimidade (Jo 13.25) e por consequência, livre trânsito entre a família de Jesus e Sua casa;
5) Finalmente, o texto é apenas descritivo e não há qualquer vestígio didático nas epístolas de que seja uma doutrina universal abrangente a todos os cristãos.
Por fim, Jesus faz apenas uma recomendação social a João, tanto que o contexto diz claramente "e desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa" (v. 27). Quanto as palavras dirigidas à Maria, Jesus expressa uma preocupação filial, pois não temos dúvida de que a amava tanto quanto a todos os Seus discípulos. Agora, os católicos naturalmente se ofendem quando lhes falamos a verdade sobre Maria, porque são submetidos por tradição cultural a anos de crendices sem fundamento nas quais as verdades puras e simples da Bíblia são eclipsadas pela pretensiosidade do magistério católico de interpretar exclusivamente as Escrituras para seus fiéis. No caso é o obscurantismo religioso e não o "sacrilégio protestante" que os faz ficar indignados quando despregamos algo sobre Maria que os sacerdotes romanos insistem em erroneamente ensinar. A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos!
*A formalização do dogma de que Maria é mãe de Deus se deu oficialmente no Concílio de Éfeso, realizado em 431, justamente na cidade que por séculos na Antiguidade havia sido erigido um templo à deusa-mãe Diana - considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. É verdade que a decisão do concílio em aplicar à Maria o termo grego theotokos (portadora de Deus) foi inicialmente no sentido de ratificar a plena divindade de Cristo e a unicidade de Sua Pessoa diante das posições heréticas do bispo Nestório, o qual afirmava que em Cristo havia duas Pessoas (uma divina e uma humana) e que por isso Maria não deveria ser chamada "mãe de Deus", pois ela teria gerado somente a humanidade de Jesus. Entretanto, a formalização do dogma da mather-dei acabou gerando seus efeitos colaterais, fazendo com que o povo ignorante assimilasse-o num sentido de divinização de Maria. Neste caso, tanto a ignorância quanto a conveniência do espírito pagão reminiscente em professos "cristãos", absorveu a formulação teológica oficial como uma luva à sua indebelável inclinação idólatra. O que foi originalmente formulado para reforçar o protagonismo de Cristo como Deus, acabou por ser usado para exaltar Maria além do papel destinado a ela.              
                          


  
    

20 agosto 2018

CAI A MENTIRA DE ROMA - SÓ TEMOS A BÍBLIA GRAÇAS À IGREJA CATÓLICA?

Propaganda enganosa papista
Uma antiga teima entre católicos e protestantes reacendeu-se recentemente a partir de um vídeo postado no you tube em que o bispo Dom Henrique Soares da Costa declara que o erro dos protestantes é colocar a Bíblia acima da Igreja, o que foi prontamente replicado pelo pastor Silas Malafaia. O debate teológico já teve tréplica e contra-tréplica e reaquece a impressão de que se trata de um exercício inútil e interminável de retórica, no qual não há vencedores e nunca se chegará a um denominador comum.
Pois bem, investigando os argumentos católicos por diversos apologistas de Roma, encontrei um do padre Paulo Ricardo que por incrível que pareça possui o mérito dos fatos. Ele diz que não vê motivo de se polemizar uma posição que a Igreja Católica defende há tanto tempo. E é verdade! Principalmente desde a Contra-Reforma, no século XVI, diante do avanço do protestantismo, o catolicismo romano sustenta com unhas e dentes que a Igreja está acima da Bíblia, pois a interpretação desta depende exclusivamente de seu Magistério. A antiguidade dessa afirmação é verdadeiramente um fato; fato não é que devemos à Igreja Católica a Bíblia, como diz a imagem que introduz este artigo. É pois o que vamos abordar aqui.
O que de fato é a Igreja: o primeiro grande erro por trás dos sofismas católicos
O catolicismo romano entende a Igreja como uma organização hierarquizada que vai desde o fiel até o papa. Essa organização subsistiria linearmente no tempo através de uma ligação ininterrupta com Jesus através de Seus apóstolos e de seus sucessores imediatos, os bispos. Isto é chamado de "sucessão apostólica" e é um dos motivos pelos quais a Igreja Católica diz ser "a única, verdadeira e original Igreja de Jesus Cristo fundada sobre São Pedro, o primeiro papa".
Para dar uma aparência de legitimidade a esses pressupostos, o romanismo aponta na Bíblia (Mt 16.18) e na Patrística (escritos de bispos que viveram entre o II e o III séculos, chamados "Pais apostólicos") supostos subsídios que comprovariam suas afirmações. Porém quando vamos averiguar tais subsídios, vemos que eles não passam do que chamamos de mito de origem e metanarrativa.
Primeiro, no texto do evangelho de Mateus referido acima, o termo grego ekklesía transliterado "igreja" em português, nunca diz respeito a uma organização, mas a uma assembleia de cidadãos convocados especialmente para uma demanda ou discussão. Esse é o conceito original de ekklesía no contexto da sociedade greco-romana. Então, igreja não tem a ver com uma organização permanente - até porque as assembleias no mundo greco-romano eram feitas e desfeitas. Ela tem a ver com pessoas. Daí a posição protestante e evangélica de que "igreja" no âmbito do NT é um organismo vivo (1 Co 1.2; 16.19; 1 Pe 2.5). Já a alegação católica de que Jesus teria fundado Sua Igreja sobre a autoridade apostólica de Pedro e que este teria sido o primeiro papa, não nos deteremos nela agora para não perdermos o foco. Basta citar textos como At 4.11 e 1 Pe 2.4,6 para termos absoluta certeza de que a Pedra da resposta de Cristo não é Pedro, mas Ele mesmo (o próprio Cristo).
Em segundo lugar, parecerá até pueril, mas Jesus não diz "minha igreja católica" e ainda por cima "romana"... A Igreja é católica, ou seja, universal abrangendo todos os povos (Hb 12.23), mas ela não nasceu católica e sim se tornou católica. No começo ela estava restrita ao âmbito judaico, pois os primeiros cristãos eram judeus. Depois, com a chegada do Evangelho a Samaria e principalmente a Cesareia (At 8.14; 10.1-34), a Igreja foi se universalizando, tornando-se "católica". Um dos mitos que está por trás dos argumentos católicos-romanos é o de que quando um pai apostólico usou o termo - carta de Inácio aos erminenses 8.2 ("Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica"), este estaria se referindo ao sistema católico-romano tal qual nós conhecemos hoje. Porém Inácio foi bispo em Antioquia da Síria entre 68 e 100 ou 107 d.C., quando o catolicismo romano sequer existia. O sistema católico-romano foi se desenvolvendo gradualmente a partir do II século justamente por meio da hierarquia, mas muitos historiadores creditam como primeiro desvio doutrinário a introdução do batismo infantil. Assim, ser "católico" antes do Concílio de Niceia, em 325, não equivalia a ser "católico-romano".
O que acontece nas apologias romanas é uma apropriação indébita do termo "católico". Tais apologistas como o padre Paulo Ricardo presumem que Roma patenteou o uso desde o I século, quando na verdade foi a partir do imperador Constantino, no IV século, que a igreja estatal apropriou-se do termo. Há um sofisma do mesmo padre acima dizendo que nós "protestantes" imaginamos que logo depois de fundar a Igreja, Jesus foi ao cartório e registrou a mesma recebendo um CNPJ. Ora, isso é um sofisma do sofisma! Primeiro que nenhum evangélico ou protestante suficientemente esclarecido jamais pensou num embuste argumentativo desses. Quando um evangélico de conhecimento, no mínimo médio, pensa em Igreja, pensa da mesma forma que Jesus pensou, ou seja, num organismo vivo composto de pessoas. No caso, o homem da batina preta formula esse tipo de raciocínio insano (que é só dele!) porque sabe que o epíteto "romana" veio muito depois. A Igreja de Cristo nasceu de fato apostólica, tornou-se católica, mas jamais foi romana. Aliás, como alguém já disse sabiamente: se a Igreja era católica (universal), não poderia ser concomitantemente romana. Ou ela é universal (católica) ou é apenas local (romana). No caso, quando se trata do conjunto universal de salvos e regenerados, a universalidade exclui a regionalidade. Então, quando algum sacerdote ou pseudo-apologista romano perguntar: que Igreja Jesus fundou em Mt 16.18? Podemos e devemos responder: a sua igreja é que não foi, pois Ele não a fundou sobre Pedro,mas sobre o testemunho dos apóstolos (dos 12) e dos profetas sendo Ele a mesmo a Pedra principal (Ef 2.20). A sua igreja (a dos padres e papas) é até de certa forma católica, pois está presente no mundo todo, mas nunca foi apostólica, pois suas práticas e dogmas contradizem frontalmente a pura e verdadeira doutrina apostólica. Agora, "romana" ninguém pode negar, pois todas as suas heresias e falsas doutrinas são reminiscências do velho paganismo de Roma que os seus patronos, os imperadores lograram patrocinar. Somos, protestantes e evangélicos, não sucessores de uma organização litúrgica morta e cerimonialmente vazia, mas co-herdeiros da mesma Igreja e participantes da mesma promessa em Cristo pelo Evangelho (Ef 3.6).   
Como então protestantes e evangélicos subsistem sem a sucessão linear?
Pra começo de conversa, já deixei implícito que a dita "sucessão apostólica" no catolicismo é balela, papo furado, conversa fiada, outro conto do vigário. Primeiro que Jesus nunca disse "onde estiverem dois ou três bispos sucessores dos meus apóstolos, aí está a minha Igreja". Disse sim "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18.20). É claro que isso não inclui as seitas heréticas, pois elas se reúnem no nome de seus fundadores e sob sua doutrina.
Segundo que o sistema católico-romano nasceu oficialmente em 325, no Concílio de Niceia, sob direção de Constantino, um pagão que fez-se "cristão", mas no fundo era henoteísta (afirmação minha).
E terceiro: os bispos do II e III séculos eram "católicos", mas não católicos-romanos.
Embora o Evangelho tenha chegado até nós por meio de uma certa tradição mantida pelos que nos antecederam, isso só foi possível pelo empenho missionário de homens de Deus que se doaram por Cristo e não pela sucessão católica de seus padres e bispos. Se dependêssemos destes, nunca teríamos conhecido o verdadeiro Evangelho e nem o único Senhor e Salvador: só as heresias e desvios doutrinários de Roma.
A Igreja Católica antecede e é responsável pela Bíblia? Está mesmo o romanismo acima das Escrituras?
Ainda sob o calor das discussões entre o bispo Dom Henrique Soares e o pastor Silas Malafaia, o padre Paulo Ricardo, da arquidiocese de Cuiabá, no Mato Grosso, assevera que o "erro" de lógica de Silas Malafaia é teorizar que sendo Jesus a Palavra de Deus, Ele é anterior à Igreja e mais importante do que esta. Daí ele conclui que para os católicos, a Palavra de Deus não se resume a um livro, mas é, antes, uma Pessoa e esta Pessoa (Jesus) não deixou nada escrito. Coube então  aos Seus apóstolos começarem a escrever algo depois de quase 20 anos após Cristo ascender aos céus. Durante esse período então, a Igreja dependeu exclusivamente da tradição, já que não havia ainda o NT. Posteriormente, com a profusão de livros apócrifos e falsos escritos que se misturavam com os livros canônicos (inspirados), foi somente por intermédio dos concílios de bispos católicos que se chegou a uma precisão de quais livros eram autênticos,  no caso os  27 que temos hoje no NT de nossas bíblias. Destarte, se os protestantes e evangélicos têm hoje uma Bíblia, devem isso à Igreja Católica que não só decidiu sobre os livros verdadeiramente canônicos, mas os copiou através de seus monges, preservou-os e ainda dividiu-os em capítulos e versículos. Só falta o padre dizer que temos de rezar 150 ave-Marias e acender velas...
Desmascarando as mentiras de Roma
O fato de Jesus não ter escrito uma só linha não abre exceção para a tradição católica, pois é isso que o sacerdote romano quer ensejar com tal argumento. Jesus não veio escrever livros, Ele veio salvar o mundo de seus pecados (Mt 1.21). Seu ministério terreno era tríplice: ensinar, pregar e curar (Mt 4.23). Então, Ele não escreveu nada para que dEle se escrevesse (Jo 21.25; Rm 15.4). É verdade que o primeiro livro do NT escrito foi a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, por volta de 50 ou 52 d.C. e que nesses 20 ou 22 anos, a igreja cristã sobreviveu sem nenhuma norma doutrinária escrita. Contudo, o referido padre esqueceu de dizer que antes disso alguns dos apóstolos, principalmente Pedro, Tiago e João, as colunas da Igreja, ainda estavam vivos (Gl 2.9). Quer dizer, mesmo sem o NT, os cristãos primitivos não dependeram coisíssima nenhuma de tradição, muito menos católica, embora a transmissão oral fosse o meio de se propagar o que os apóstolos ensinavam. A Igreja Católica depende hoje de uma tradição escrita para fundamentar suas doutrinas, a igreja primitiva dependeu diretamente dos apóstolos, ou seja, diretamente da revelação divina e, como o padre sofismou, de nada escrito. A diferença é que a Tradição católica não é e nunca foi linearmente Palavra de Deus, mas palavra de homens, que algumas vezes defendiam e ensinavam doutrinas bíblicas, mas em outras vezes estavam em desacordo e até ensinaram heresias, como Tertuliano e Agostinho.
Quanto ao raciocínio de Malafaia de que a Palavra antecede a Igreja, pois a Palavra de Deus é Cristo (Jo 1.1), ela não é incorreta, mas é imprecisa no contexto do debate. O tema em questão é a Palavra escrita, a Bíblia Sagrada. A Igreja em certo sentido, como vimos, antecede à Palavra escrita. Mas não é a Igreja que normatiza a Bíblia e sim a Bíblia que normatiza a Igreja, assim como os constituintes brasileiros de 1988, embora tenham nascido antes da Constituição por eles elaborada passaram a ter a sua vida regida por ela a partir de quando esta entrou em vigor. Paulo escrevendo sua Segunda Carta a Timóteo, diz:
"Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra" (2 Tm 3.16,17).
Se esse "homem de Deus" representa a Igreja nesse contexto, então quem claramente julga quem?
Quando os apologistas católicos dizem que a Igreja antecede a Bíblia, eles querem dizer que a igreja primitiva era a Igreja Católica, mas como já mostramos, a Igreja Católica não é a Igreja de Jesus. A Igreja Católica é organizacional; a Igreja de Jesus é orgânica. A Igreja Católica tem Pedro como sua pedra e fundamento; a Igreja de Jesus tem Ele próprio como Pedra e fundamento. A Igreja Católica passou a existir oficialmente a partir de 325; a Igreja de Jesus nasceu por volta do ano 30 no dia de Pentecostes e assim vai.
Mas os concílios católicos definiram o cânon da Bíblia
De acordo com o apologista e escritor cristão Norman Geisler, os concílios de Roma (392), Hipona (393) e Cartago (397) não definiram a canonicidade das Escrituras; o que realmente ocorreu foi um reconhecimento, uma ratificação - no caso em questão dos 27 livros do NT. Embora tenha havido de início dúvidas sobre a autenticidade apostólica de alguns deles (caso de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) devido à profusão de apócrifos e dos chamados pseudoepígrafos, fato é que a igreja apostólica e pós-apostólica em sua maioria já aceitava tais escritos como inspirados. Um dos toscos argumentos utilizados, sobretudo, pelo padre Paulo Ricardo em sua apologia à tradição de Roma é que nós protestantes achamos que "a Bíblia caiu de paraquedas do céu, com zíper e tudo...".
Ora, o padre parece que além da vocação sacerdotal tem vocação para comediante...
A Bíblia enquanto registro literário da revelação divina não caiu do céu, mas o seu conteúdo sim (2 Pe 1.21). Assim, ela não precisou de "paraquedas", mas da ação sobrenatural da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a qual o batinado, de certa forma renega, transferindo para um concílio de homens realizado três séculos depois a meritocracia que é do próprio Deus (Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.13).
Realmente a Bíblia não caiu do céu com zíper e tudo, mas a Igreja Romana para ocultar suas heresias, sem zíper, a fechou, para somente no século XVI os protestantes a reabrirem e devolverem-na ao povo.
Como bem observado pelo apologista Lucas Banzoli em seu site "Heresias Católicas", os "concílios" citados de Hipona e Cartago não passaram de sínodos locais sem força ecumênica (não abrangente a toda a igreja universal e nem mesmo foram realizados pela igreja romana, já que se deram no norte da África), por isso não servem como argumento para fundamentar a tese católica de ter sido a Igreja Romana a responsável pela canonização da Bíblia.
Tal pressuposto é um ultraje à soberania do Espírito Santo, pois de acordo com o próprio Senhor Jesus, o Segundo Consolador seria enviado para ensinar, lembrar o que Jesus ensinou, testificar do Filho, guiar a Igreja em toda a verdade, transmitir o que o Pai e o Filho designaram e anunciar o que estava por vir. Somente na enumeração dessas funções está englobada toda a atividade de prover a revelação do que viria a compor o NT. Só que assim como o catolicismo romano, na prática, retira o papel mediativo de Cristo (1 Tm 2.5) e o transfere para seus sacerdotes, ele retira a exclusividade do Espírito Santo como canal da canonicidade e a transfere para a igreja. Isso é uma usurpação blasfema!
A igreja primitiva foi a única a receber evidência de primeira mão e a ser testemunha ocular da autenticidade dos livros do NT, como diz o Dr. Geisler. Ela não causou o cânon, ela foi testemunha da autoridade apostólica que o Espírito Santo confirmou em seu coração. Seria impensável a verdadeira Igreja de Jesus sobreviver três séculos somente do disse-que-disse da tradição católica para então finalmente no IV século ter a confirmação: são só 27 livros que foram inspirados por Deus, mesmo... Seria o mesmo que você passar quatro ou cinco anos cursando uma faculdade sem ter certeza da legitimidade da grade curricular pelo MEC.
A igreja primitiva nunca dependeu de concílios humanos para discernir se um livro do NT era autêntico ou não. Prova disso é que já nos anos 60 do I século, Pedro já reconhecia os escritos de Paulo como Escritura (2 Pe 3.15,16). E não foi preciso nenhum concílio de homens para o apóstolo-pescador chegar a tal conclusão. Então, a estória de que a Igreja Católica foi que definiu o cânon da Bíblia (em especial o do NT) é lorota, engôdo, sofisma, papo-furado, conversa pra boi dormir, ou melhor, ração pra gado. E como os católicos gostam de ser gado! Oh, vida de gado. Povo marcado, eh! Povo feliz! Como diria Zé Ramalho.
A Igreja Católica copiou e guardou a Bíblia...
A Igreja Católica copiou é meia-verdade; que guardou a Bíblia é uma verdade inteira!De fato, muitos monges católicos copiaram as Escrituras, mas se é para dar-se os créditos com justiça, os tais têm de se estender também à Igreja Ortodoxa (o catolicismo oriental grego), pois não houveram monges somente na igreja ocidental. Contudo, é do conhecimento de qualquer aluno do ensino médio que os mosteiros surgiram no início da Idade Média porque muitos clérigos desejavam viver uma vida mais piedosa, o que o chamado clero secular já não oferecia, devido à corrupção moral da igreja estatal. O surgimento dos monastérios foi de certa forma uma ruptura com a igreja oficial, tanto que os tais tinham suas próprias regras sem obedecer efetivamente a bispos e papas. Assim, não é totalmente verdade que a Igreja Católica copiou a Bíblia, pois seus monges que assim fizeram tinham pouca ligação com o clero oficial e, dado os monastérios terem a sua localização fora do âmbito das cidades (em geral, nos desertos), as cópias produzidas por estes quase nunca saíam de lá e muito dificilmente alguém iria até lá consultá-las.
Agora, que Roma guardou as Escrituras e as guardou literalmente ao ponto de proibir sua produção e leitura em 1229, no Concílio de Tolosa, é fato irrefutável! No entanto, sites de apologética católica como o "Cai a Farsa" - com o pretensioso subtítulo de "Desmascarando o Protestantismo" - alega num non sense total que a proibição, na verdade não foi uma proibição, já que não haviam ainda bíblias impressas e a maioria do povo não sabia ler. Se o povo não sabia ler, como a Igreja Católica proibiu a leitura  da Bíblia? Argumentam. Desse modo, o concílio não teria proibido a sua divulgação e leitura, mas a tradução e divulgação em língua vernácula. E a razão para isso foi a heresia dos cátaros ou albigenses, grupo que desprezava a hierarquia e o sacerdócio romano e que por isso foi exterminado pelo sanguinário papa Inocêncio III.
Há, como sempre, armadilhas argumentativas do lado papista. Se é verdade que o povo leigo era iletrado, é verdade também que a igreja romana nunca teve interesse de divulgar a Palavra de Deus aos seus ignaros fiéis. O romanismo dominou o saber medieval e, como se sabe, pesquisando um pouquinho, as bibliotecas estavam ligadas ao monasticismo católico, tanto o ortodoxo quanto - e principalmente - ao romano. Se é um fato que o analfabetismo era uma realidade social daquela época, fato também é que a igreja papal, mesmo com todo o seu poder, prestígio e influência, pouco ou nada fez para reverter esse quadro. Era do interesse do clero e, em especial, dos papas sedentos de poder que o povo assim permanecesse, pois era mais fácil de dominar suas mentes e almas.
Nesse caso da proibição em Tolosa, a fratura exposta deixa ver que a Bíblia era uma peça de decoração na famigerada teologia papista, lida (em latim) somente para dar uma aparência "cristã", por exemplo, à liturgia da missa e da eucaristia, que na verdade tinham sua fonte de prática no velho culto canibalista do mitraísmo. Quer dizer, as Escrituras estavam reservadas mormente ao clero e este no seu suposto direito divino de interpretá-las ocultou suas heresias e desvios aos olhos da plebe.
Porém, como outros grupos anticatólicos como os donatistas, os anabatistas ou os valdenses, os cátaros ousaram interpretar a Bíblia diferentemente do Magistério católico e também pagaram com suas vidas. Estima-se entre 38 e 60 mil mortos e, pasmem, entre eles até padres católicos, pois os 20.000 cavaleiros armados do papa não tinham como discernir quem era quem quando invadiram a cidade. Indagado do papa como seu exército diferenciaria os "hereges", ele cinicamente como todo tirano, respondeu: "Matem todos eles; Deus reconhecerá os Seus.". Seria essa a verdadeira igreja de Jesus? Seria mesmo esse o "substituto" de Cristo na terra?
Todavia, outros sites católicos em defesa da "santa madre igreja" como o Cléofas, dizem que essa proibição foi temporária, regionalizada e não abrangente à igreja universal. Porém o seu proponente, o professor Felipe Aquino, deve ter esquecido de dizer que essas proibições foram constantes como em 1559 por Paulo IV, em 1664 e em 1824 na Encíclica Ubi Primum, na qual o papa Leão XII chama as Sociedades Bíblicas de pestes por divulgarem sem nenhuma censura os Ensinos Sagrados. Ainda assim, algum papista sem-vergonha pode sofismar que a proibição era das edições protestantes na língua comum do povo e não no latim. Ora, isso não deixa de ser uma proibição e uma total desonestidade intelectual da igreja desviada. Se o povo leigo não sabia nem ao menos ler, poderia entender a leitura feita pelos padres numa língua morta como o latim? E se a permissão de Roma concernia somente a Vulgata de Jerônimo, que referenciais a plebe teria se a Bíblia foi escrita originalmente em hebraico e grego? A igreja papista assim desejava pelos motivos já expostos aqui: manter o povo na escuridão e inteiramente cativo aos seus vis ditames.
Mas foram católicos que não só dividiram a Bíblia em capítulos e versículos, mas foram os primeiros que a imprimiram em língua vernácula...
É verdade que o arcebispo da Cantuária (Inglaterra), Stephen Langton foi quem dividiu as Escrituras em capítulos por volta do ano 1226 e que Robert Stienne, um editor e impressor católico de Paris foi quem as dividiu em versículos, em 1551. Entretanto, os apologistas católicos usam esse fato para reforçar a tese de que "a Igreja é mãe da Bíblia", pois não somente definiu o seu cânon como legou aos cristãos (inclusive nós protestantes) a facilidade de lê-la e manuseá-la. Será? Como diriam os jovens hoje "só que não!".
Antes de Langton, os judeus já dividiam o AT em sistemas por eles criados como o Sedarim, o Perashyyot e Pesuquim. No caso do NT houveram tentativas como o Canones Eusabiani, de Eusébio de Cesareia (265-339 d.C.) muito tempo antes do arcebispo católico-romano. Agora, será que o chaveiro que fez a chave da sua casa tem por isso autoridade para entrar nela e fazer o que quiser? Assim, embora Langton tenha sido um sacerdote romano, ele não dividiu a Bíblia em capítulos por determinação da igreja católica, pois esta pouco ou quase nada se importou com as Escrituras. O mesmo se deu com Robert Stienne, apesar de católico-romano. Ao traduzir o NT diretamente do grego, ele acrescentou-o críticas filológicas em notas de rodapé que até contestavam certas interpretações do magistério romano. Mais tarde foi acusado de heresia e foi perseguido pelas autoridades católicas, tendo que fugir de Paris indo se refugiar em Genebra, na Suíça. Embora realmente tenham sido católicos os divisores da Bíblia em capítulos e versículos, quem popularizou e legou ao mundo cristão esse trabalho tão útil para nós hoje em dia foram os "malditos" protestantes. Em 1560, a Bíblia de Genebra, considerada um dos baluartes da Reforma foi publicada e por trazer a divisão em capítulos e versículos propagou essa utilíssima medida para outras versões clássicas como a King James (Versão do Rei Tiago, em inglês), de 1611, e a de João Ferreira de Almeida em português, de 1681.
O mesmo vale para a premissa de que foi a Igreja Católica que publicou pela primeira vez uma bíblia em língua vernácula, a Bíblia em alemão de Johannes Gutemberg, o pai da imprensa moderna, entre 1453 e 1456. Gutemberg publicou a sua bíblia sendo ela um projeto particular e não uma ordem da Igreja Católica; Gutemberg era um gráfico e impressor e não papa, bispo ou padre. É de se ressaltar que a sua obra contribuiu decisivamente para a Renascença, a Revolução Científica e a própria Reforma Protestante que desferiram um golpe mortal no monopólio religioso, cultural e científico do catolicismo romano. O mundo saiu do obscurantismo religioso de Roma e da "Idade das Trevas" graças à propagação da Bíblia, legado do protestantismo e não da Igreja Católica Romana. Se hoje temos a Palavra de Deus em mãos, esse mérito é primeiramente do próprio Deus (1 Pe 1.25) e em segundo dos missionários e baluartes do protestantismo que em sua incansável luta nos legaram a Verdade Que Liberta, Cristo Jesus Nosso Senhor e Salvador! (Jo 8.32).
Fontes usadas por este autor:
Impressas
PERES, Alcides Conejeiro. O Catolicismo Romano Através dos Tempos. Rio de Janeiro: JUERP, 1995.
STEFANO, Gilberto. A Origem: Descrevendo a Histórias dos Batistas, dos Católicos, dos Protestantes e dos Pentecostais. 2ª Edição. Ourinhos: Edições Cristãs: 2006.
Meio eletrônico
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http://www.cacp.org.br/agostinho-de-hipona-o-defensor-das-heresias-de-roma/
Consultados em 12 de agosto de 2018:
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https://caiafarsa.wordpress.com/o-concilio-de-toulouse-proibiu-a-biblia/
Consultados em 20 de agosto de 2018:
https://pt.aleteia.org/2016/03/14/quem-dividiu-a-biblia-em-capitulos-e-versiculos/
http://reforma500.com.br/2016/10/14/a-biblia-de-genebra-de-1560/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Estienne
https://pt.wikipedia.org/wiki/Eus%C3%A9bio_de_Cesareia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Almeida_Revista_e_Corrigida
https://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg     
    
                   
                              
    

07 abril 2018

ENTENDENDO O TERRORISMO JIHADISTA NA FRANÇA

Atentado no Dia da Bastilha - 86 mortos
UM ÓDIO SEM FIM
Um dos países mais desenvolvidos, prósperos e cultos do mundo tem sofrido nos últimos tempos com o extremismo jihadista do Estado Islâmico e da Al-Qaeda. Estarrecida, a comunidade mundial tem acompanhado pelos meios de comunicação cenas grotescas  que deixam a céu aberto, o nível mais desumano do radicalismo e da intolerância religiosa. Quando se pensava que todo sangue inocente já havia sido derramado em solo francês em episódios como a Noite de São Bartolomeu, as investidas nazistas na Segunda Guerra ou na Era de Napoleão, o jihadismo fundamentalista deixou novo rastro avermelhado nas ruas e estabelecimentos de cidades francesas.
Desde a invasão à sede do semanário satírico Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, conta-se nada menos que dez atentados realizados ou frustrados. Aliás, a sátira irresponsável do jornal francês à figura do "profeta" Maomé faz-nos questionar seriamente os limites da reclamada liberdade de expressão que a imprensa no seu todo defende. Será que liberdade significa mesmo não ter limites para se fazer tudo o que se pensa? E por outro lado, o cerceamento de representações intelectuais e produções artísticas irreverentes de temas religiosos significaria uma ditadura cultural?
Um dia depois da morte das 12 pessoas na invasão a sede do Charlie, Amedy Coulibaly matou um policial e feriu um agente municipal em Montrouge, ao sul de Paris. No dia seguinte, o mesmo Coulibaly fez reféns os clientes e funcionários de um supermercado judaico na capital matando quatro deles. Em novembro, veio o pior: atacantes suicidas mataram um total de 130 pessoas e deixaram mais de 350 feridos na casa de shows Bataclan e em vários bares e restaurantes do centro da capital. Houve também a explosão de uma bomba nos arredores do Stade de France, mais ao norte, em Saint-Denis, onde a seleção francesa jogava uma partida amistosa contra a Alemanha. A maioria das vítimas era jovem. O Estado Islâmico reivindicou os atentados. A mesma organização jihadista reivindicou o mais recente ataque em 14 de julho do ano passado, em Nice, no Dia da Bastilha, no qual 86 pessoas morreram atropeladas por um caminhão dirigido por um franco-tunisiano de 31 anos.
Indignados e perplexos com tanta violência e ódio sem fim, muitos não entendem o porquê desse extremismo religioso, no qual um grupo minoritário de uma grande religião tenta impor a força a sua ideologia radical de islamizar o mundo. Para se entender tudo isso na íntegra, precisa-se saber resumidamente o que são os grupos extremistas como EI. Por que eles agem assim? O que defendem? Qual a sua origem e representatividade no islã? Por que a França tem sido alvo constante de ataques terroristas? O que tem a ver esse país supostamente cristão com o islamismo? É isso que pretendemos abordar neste artigo, no intuito de não somente informar, mas conscientizar as pessoas a cerca da ameaça cada vez maior do fundamentalismo islâmico.
A origem ideológica dos grupos terroristas
O radicalismo islâmico tem sua fonte ideológica na chamada jihad, ou "guerra santa". A belicosidade dessa religião tem a sua explicação histórica pelo fato dos califas sucessores de Mohamed (Maomé), o seu fundador, terem levado ao pé da letra o significado original de "islã", que no princípio tinha uma conotação belicosa e não a atual de "submissão". Maomé iniciou a propagação oral da chahada, ou confissão de fé, mas foi rejeitado pelos chefes tribais de Meca. Em árabe, ela diz "La illah illa Alah; Muhammad rasul Alah" ou "Não há Deus senão Alá; Maomé é o mensageiro de Alah". A Arábia do século VII d.C., especialmente a região de Meca, onde o profeta muçulmano nasceu por volta de 570, era politeísta e havia muita corrupção moral, social e política entre os chefes coraixitas - tribo da qual Maomé descendia. Tudo isso descontentava a Maomé, mas especialmente o politeísmo idólatra indignava-lhe tendo ele recebido clara influência do monoteísmo judaico-cristão. Após 13 anos de perseguição, Maomé foi obrigado a fugir apara Iatrib, ao norte, cidade que veio a se chamar Medina. Esse acontecimento é conhecido no islã como hégira ou emigração e marca o ponto de partida do calendário islâmico.
No ano 630, Maomé voltou para conquistar Meca e governá-la, mas, curiosamente sem pegar em armas e sem derramar o sangue de seus algozes. O "profeta" acabou parcialmente com o politeísmo e o animismo idólatra de sua cidade. Digo parcialmente, pois conservou a Caaba, o edifício em forma de cubo, todo negro, que é o principal ponto de peregrinação a Meca - muito provavelmente a maior procissão religiosa do mundo, maior até que o Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Com o tempo a jihad foi registrada nas páginas do Corão ou Alcorão, o livro sagrado do islamismo. Ao princípio, todos os muçulmanos de acordo com Martin (1977) craim ser obrigação "sagrada" matar todos aqueles que não abraçassem a "verdadeira fé", a fé islâmica. Por sua interpretação mais moderada do Corão, os sunitas não adotam esse unilateralismo. Foi com base na guerra santa e principalmente sob o manto do Império Otomano, que o islã conquistou a maior parte do Oriente Médio, o norte da África, parte da Ásia Central e da Península Ibérica se transformando na 2ª maior religião do planeta, com 1 bilhão e 600 mil seguidores.
O ramo xiita do islamismo - donde vêm os grupos terroristas - levam a cabo essa "missão sagrada" de impor a crença em Alá. O grande problema é que (pelo menos confessionalmente) 2 bilhões e 200 mil pessoas se declaram cristãs no mundo, o país mais poderoso política, econômica e culturalmente do planeta é cristão, os EUA, e o local da Terra mais requerido pelos muçulmanos está em disputa com Israel: Jerusalém e a Palestina. Resultado: os alvos de maior ódio do fundamentalismo islâmico são os cristãos, os americanos e os judeus. Por que então a França tem sido alvo constante do terrorismo nos últimos dezenove meses (escrevi originalmente em julho de 2016)? Porque ela é cristã? Não necessariamente como veremos a seguir.
O neocolonialismo francês, a porta de entrada para o ódio muçulmano
Certamente muitos se lembram de Zinedine Zidane, o camisa 10 da seleção francesa que acabou com o sonho do penta na Copa de 1998. Pois é, o hoje técnico do Real Madrid não é genuinamente francês. É filho de imigrantes argelinos que foram para a França. A Argélia (como a Tunísia e o Marrocos) foi colônia francesa no norte da África, nos séculos XIX e XX. O que esses países têm em comum além da língua árabe é o fato de serem muçulmanos. Infelizmente, nem todos os imigrantes que vão ou foram para a França desejam ser jogadores de futebol ou outra profissão qualquer. No passado, seus ascendentes tiveram a sua pátria invadida e explorada política e economicamente na corrida desenfreada das potências europeias, o chamado Neocolonialismo. Houve naturalmente uma permuta populacional e cultural entre Metrópole e Colônia. Ao princípio, mais numa via única: a de franceses indo para a África. A partir da segunda metade do século XX foram argelinos, marroquinos e tunisianos que imigraram para ex-metrópole. Em estimativa não oficial de 2014, levanta-se que há 6,5 milhões de muçulmanos vivendo na França, o que corresponde a 10% da população de 66 milhões. Fala-se mesmo em islamização da sociedade francesa, pois até grandes redes de supermercados como o Carrefour vendem livros que pregam abertamente a jihad e o assassinato de "infiéis" (os não-muçulmanos).
Grande parte dessa massa muçulmana foi constituir guetos, herdando o desemprego, o subemprego e a marginalização. Estima-se que 60% da população carcerária da França, ou 40 mil detentos, são "cultural ou originariamente" muçulmanos. Isso resulta em lastro generalizado de discriminação e xenofobia por parte dos franceses nativos. Assim sendo, pode-se dizer que o passado colonialista e imperial francês, com sua prepotência, arrogância e egoísmo têm sua parte significativa nesse caos social e humanitário que vemos hoje na terra da cultura e do requinte. Desde a proibição do uso do véu e da burca por mulheres muçulmanas em lugares públicos, ainda no governo de Jacques Chirac, em 2004, criaram-se vários barris de pólvora prontos a explodir a qualquer momento. A já natural predisposição do imigrante muçulmano à guerra santa é corroborada pela sua revolta contra as vexações por que passam em território francês. É claro que isso não justifica o fundamentalismo jihadista, mas aí é que entra em ação o aliciamento do EI, principalmente entre os mais jovens. Isto a organização terrorista tem feito em várias partes do mundo (até no Brasil e no Pará) por meio das redes sociais. Contudo, a França é mesmo o grande alvo do EI e outras possíveis explicações passaremos a ver agora.
Outras possíveis razões do alvo extremista do E.I.
Segundo o porta-voz do EI, Abu Mohamed Al-Adnani "Bata com uma pedra na cabeça, ou mate com uma faca, ou atropele com seu carro, ou empurre de um lugar alto, ou asfixie, ou envenene" são ações perfeitamente justificáveis na causa de Alá. O extremismo islâmico não mede crueldade quando o assunto é executar "os descrentes ocidentais", especialmente "os sujos e desprezíveis franceses". Quem já teve coragem de ver a execução de cerca de 30 cristãos (entre eles vários pastores) numa praia da Líbia, sabe do que estamos falando. Entretanto, o ódio aos franceses pelo EI é especulado em várias frentes. Uma delas fala do envolvimento francês na coalizão contra os jihadistas no Oriente Médio. Outra conjectura como causa a investida contra os valores do Iluminismo do século XVIII, os quais são contrários à visão totalitária de mundo dos jihadistas. Outra análise vê no fato da França ser o lugar da Revolução de 1789 e da origem ideológica do Século das Luzes outra razão do extremismo anti-francês. Devido a isso, os franceses são apegados a valores republicanos e ao laicismo, algo totalmente contrário ao islã radical. Segundo os estudiosos, o EI tenta fazer com que a população muçulmana seja cada vez mais estigmatizada na França e acabe abraçando o fundamentalismo islâmico. Isso resultaria  numa guerra civil, segundo o cientista político Gilles Kepel, em entrevista ao Le Monde. Além do já citado passado colonial francês de exploração e subjugação  a povos muçulmanos, a França assinou com o Reino Unido o acordo Sykes-Picot, que em 1916 desmantelou o Império Otomano resultando em diferentes países com fronteiras artificiais (ex: Síria-Iraque). Assim, mesmo lamentando profundamente as centenas de vidas perdidas nesses últimos tempos, a França está pagando a conta de sua desmesura política e de prepotência imperial, que, junto a outras nações, retalhou e devastou diversas regiões da África e da Ásia a custo de sede de poder e influência sobre os países mais pobres e subdesenvolvidos. Ganância, aliás, que foi basicamente a causa das duas Grandes Guerras Mundiais.
Uma radiografia bíblico-teológica do jihadismo
Muitos de forma irrefletida e superficial imaginam que Alá, o deus do islamismo, é o mesmo Deus de judeus e cristãos pelo simples fato dessa religião ser monoteísta, além de afirmar ser a cumulação da tradição judaico-cristã. Há, no entanto, diferenças substanciais no âmbito teológico e doutrinário que não endossam essa afirmação pluralista e inclusivista. Vejamos as mais importantes abaixo:
TEMA                                    CRENÇA MUÇULMANA 
Fonte de Autoridade             O Corão
A Bíblia                                   Rejeitam-na 
Deus                                        Alá
O caráter de Deus                  Caprichoso e vingativo
Relacionamento com Deus   Submetem-se por medo 
A Trindade cristã                    Um pecado imperdoável
Constituição da Trindade      Alá, Jesus e Maria (1)
Jesus Cristo                           Um profeta histórico
O Espírito Santo                     O anjo Gabriel
O sacrifício de Cristo             Uma lenda cristã
A ressurreição de Cristo       Jamais ocorreu
O Céu ou Paraíso                   Um lugar de prazer sexual
Quem merecerá o céu           Somente os muçulmanos
Quem merecerá o inferno     Todos os não-muçulmanos
O Corão                                  O livro sagrado do islã
Alá                                           O único deus
Maomé                                    O mensageiro de Alá
Tolerância religiosa               Nenhuma entre os xiitas (4)
Relação com Israel                De ódio e repulsa
TEMA                                    CRENÇA CRISTà
Fonte de Autoridade             A Bíblia
A Bíblia                                   Tem-na como única regra 
Deus                                        Iavé ou Jeová
O caráter de Deus                  Santo, justo e amoroso
Relacionamento com Deus   Servem-no por amor 
A Trindade cristã                    Uma verdade fundamental
Constituição da Trindade      Pai, Filho e Espírito Santo
Jesus Cristo                           O Filho eterno de Deus
O Espírito Santo                     A 3ª Pessoa da Trindade
O sacrifício de Cristo             Fato central da fé cristã
A ressurreição de Cristo       Pilar da esperança cristã
O Céu ou Paraíso                   Lugar de prazer espiritual
Quem merecerá o céu           Somente os regenerados
Quem merecerá o inferno     Os incrédulos e impenitentes
O Corão                                  Um livro humano (2)
Alá                                           Um deus tribal pré-islâmico (3)
Maomé                                    Um falso profeta entre tantos
Tolerância religiosa               Plena 

Relação com Israel                Amistosa e de respeito
(1) Os muçulmanos assim entendem a Trindade cristã, sem representar contudo a sua crença.
(2) Segundo os estudiosos do islamismo, muitos conceitos do Corão já existiam antes de Maomé fundar sua religião. O fato de citar personagens bíblicos como Adão, Abraão, Jesus e certos conceitos judaico-cristãos, indicaria que o livro sagrado do islamismo não é original, ainda que os muçulmanos afirmem que a suposta revelação dada a Maomé por Alá sela o clímax e o ponto final da manifestação divina à humanidade.
(3) Alá já existia na Arábia antes do islamismo e era adorado como o deus-lua.
(4) Os sunitas, que constituem cerca de 80% dos muçulmanos no mundo, são mais moderados, mas mesmo nos países onde prevalecem (como a própria Arábia Saudita), não há liberdade de propagar outras religiões.
Bibliografia
MARTIN, Valter. O Império das Seitas. Belo Horizonte: Betânia, 1992. v. 2. 127 p.
MENEZES, Aldo. Islamismo. Sola Scriptura blog [S.I.; s.d.]. Disponível em: <http://solascriptura-tt.org/seitas/islamismo-Aldo Menezes.htm>Acesso em: 20 jan. 2016.
O Homem em Busca de Deus. Cesário Lange, SP: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990. 372 p.
Rafik Responde ao Islã blog. [S.I.: s.d.]. Disponível em: http://rafikresponde.blogspot.com. Acesso em: 20 jan. 2016.

03 fevereiro 2018

CONTRA-TRÉPLICA À PÁGINA "O PUBLICADOR DO REINO"

"O Publicador do Riso", sua teologia é uma piada! Seus seguidores tejoquinhas ficaram irados. Mas tudo bem, como ex-mórmon estou acostumado com o zelo sectário. Pra começar eu não acho que refutei. Eu refutei. Só você e sua truppie não perceberam, pois "... o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios. Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência..." (1 Tm 4.1,2).
Vamos as sua tréplicas:
1- A cópia vem sempre depois da original. Para que uma cópia exista, a original tem que existir antes.
RESPOSTA: Preciso lembrá-lo de duas coisas básicas: estamos tratando de assuntos além da esfera física, estamos tratando de Deus. Segundo, você se apega como falei a uma quarta acepção do termo grego character e mesmo assim aproveita somente a expressão "cópia" ignorando que Cristo não é somente uma "cópia" qualquer, Ele é a "cópia exata" do Pai. Exato= certo, correto; preciso, rigoroso; perfeito, esmerado. Desse modo, a sua ênfase recai somente sobre o que lhe convém - como é praxe da Sociedade Torre das Asneiras. Ignora também que para que a cópia seja uma cópia precisa, rigorosa, ela precisa receber da original a essência exata que já existia antes, caso contrário não seria uma cópia... Cristo é a cópia fiel do Pai, pois dEste recebeu a essência de Seu Ser divino, que convenhamos é Eterno.
Não sem razão, Jesus declara por 7 vezes no evangelho de João ser o Eu Sou (EU SOU o pão da vida, Jo 6.35, EU SOU a luz do mundo, Jo 8.12, EU SOU a porta das ovelhas, Jo 10.7,9, EU SOU o Bom Pastor, Jo 10.11,14, EU SOU a ressurreição e a vida, Jo 11.25, EU SOU o caminho, a verdade e a vida, Jo 14.6, EU SOU a videira verdadeira, Jo 15.1,5 e a obscura "comissão" da nova TNM não teve a cara de pau de traduzir ego eimi por "eu já existia", como em Jo 8.58 apenas para descaracterizar que Jesus é de fato o EU SOU de Êx 3.14. Vou repetir: Jesus declara por 7 vezes ser o EU SOU. O número sete na Bíblia, por acaso, não faz referência a Deus?...
2- Jesus só possui divindade porque foi do agrado do Pai (Cl 1.19). A original não depende da cópia, mas a cópia depende da original. Toda cópia tem um início assim como Jesus teve (Ap 3.14).
RESPOSTA:  O que é mais importante numa outorga de plenos poderes ao comissionado para exercê-lo por representação de outrem? A vontade do outorgante ou o fato da plena capacidade de exercício jurídico do outorgado? Se o outorgado não tivesse aptidão em si mesmo poderia representar o outorgante? Se foi do agrado do Pai que em Cristo habitasse toda a plenitude (plerõmaa plena deidade), haveria ela de existir meramente numa deidade secundária? Não haveria sentido o mesmo Paulo declarar no contexto desse capítulo que Cristo é "imagem do Deus invisível" (v.15) nem de que Ele criou todas as coisas (v.v. 16-18). Se Cristo é Criador não pode ser criatura; se Ele é criatura não pode ser Criador, pois este ofício é exclusivo de quem transcende a criação (Is 42.5; 43.1,15; 45.9,11-12, 18)Aliás, o texto de Cl 1.15-18 é uma das provas mais contundentes da falsidade teológica da STV, pois na antiga TNM nota-se a presença de colchetes com a palavra "outras" quatro vezes deixando claro o texto estrategicamente adulterado da Torre de Vigia. Na nova TNM até os colchetes foram suprimidos mostrando que o neoarianismo jeovaísta é capaz de interpolar até as suas próprias interpolações. Quando o apóstolo diz mais adiante que em Cristo habita corporalmente toda "a plenitude da divindade" (Cl 2.9), ele está falando que no Homem Jesus a plena medida, a totalidade, a completude do único Deus verdadeiro habita nEle de forma total e perfeita. Não é um caso apenas de se possuir "qualidade divina" como traduz deturpadamente a TNM. Até mesmo aos salvos, Deus quis comunicar a Sua natureza perfeita e santa a fim de capacitá-los a viverem em plena comunhão com Ele (Jo 1.16). É claro que essa plenitude se dá no aspecto moral no cristão, pois o homem é criatura e Deus é Criador. Já no caso de Cristo isso se dá de forma literal, pois só Ele é o Unigênito do Pai (Jo 1.14), isto é, o único gerado diretamente pelo Pai, o único do tipo ou da mesma essência do Pai.
Apocalipse 3.14 está dizendo que Jesus foi o primeiro Ser criado por Deus?
Essa é uma das mais surradas afirmativas arianas da STV e uma das maiores provas de seu cinismo intelectual. A expressão usada por João "princípio da criação de Deus" para Jesus nunca significou que Ele é a primeira criatura. O termo grego archê segundo o Dicionário Strong tem o sentido de origem, causa e não a consequência de uma ação. No próprio versículo é dito que Cristo é o "Amém", ou seja, toda ação planejada pelo Pai na eternidade tem o Filho como o consumador, o finalizador, o executor tanto da obra criativa (Jo 1.3)quanto da obra redentora (Jo 19.30a) como do Juízo Final (Jo 5.22).
Curioso é que a desonestidade da Torre de Vigia é tão cretina que ela manteve a mesma expressão em português das versões de Almeida na TNM. Assim ela pode facilmente incutir na mente dos ignaros que Cristo foi a primeira criação de Jeová. Patético!
3- Jesus não quis ser igual a Deus? (Fp 2.6). Aqui a "organização de Jeová" descaracteriza a passagem enfatizando como sempre somente o que lhe convém.
RESPOSTA: A STV sabe que a passagem acima é um dos textos-chave para as afirmativas trinitarianas, por isso ela procura desesperadamente uma falsa exegese que caiba em sua teologia ariana. É bom salientar que o contexto dessa afirmação de Paulo, que vai dos versículos 5-11 é uma das armas mais letais para fulminar as pretensões russellitas. Paulo discorre aos seus destinatários filipenses sobre HUMILDADE é cita Jesus como exemplo mais perfeito dessa qualidade que havia de habitar cada cristão. Jesus embora fosse Deus não quis usurpar, isto é, apossar-se pela força da igualdade com o Pai. Aí é imprescindível fazer-nos a seguinte pergunta: sob qual condição Cristo não desejou tomar a força a igualdade com o Pai? A condição anterior à Encarnação (Jo 1.14) ou na Encarnação? A passagem nos mostra claramente que foi na condição de Deus feito Homem que Cristo esvaziou-Se, ou seja abriu voluntariamente mão de suas prerrogativas de Deus Todo-Poderoso. Ele não deixou de ser Deus enquanto Homem, mas renunciou a Sua condição para depois retomá-la sob exaltação (Mt 28.18). E por quê? Porque foi obediente ao plano do Pai até a morte e o foi obediente como Homem, como o Servo Sofredor de Is 53.
Outro detalhe importante é que ao declarar "É-me dado todo o poder no céu e na terra", Jesus não está insinuando qualquer inferioridade substancial em relação ao Pai. Segundo o raciocínio jeovaísta, se todo o poder foi-Lhe dado, é porque Jesus é um Ser subordinado e inferior a Jeová recebendo o que antes não tinha. Assim, o Todo-Poderoso seria apenas Jeová que teria apenas nomeado seu subordinado Filho para representá-Lo, digamos assim. Entretanto, Jesus apenas retomou por direito de primogenitura o que já era Seu (Cl 1.15,16b) e também por legalidade o que legitimamente conquistou com Sua submissão ao Pai (Fp 2.8,9). Na primeira acepção Jesus retomou sua Onipotência por ser naturalmente Deus; na segunda a reconquistou por ter sido obediente e vitorioso em Sua natureza humana. Então não há nada em Mt 28.18 que reduza Cristo a um mero serviçal de Jeová.
4- Deus poderia orar a Si mesmo e morrer? (Lc 23.46). As tejoquinhas fazem muito barulho levantando essa questão, que convenhamos, é até tola e pueril diante do que já expomos aqui.
RESPOSTA: Tal pergunta capciosa simplesmente não cabe de acordo com a teologia trinitariana. Ela teria algum sentido se fôssemos unicistas, ou seja, acreditássemos haver apenas uma Pessoa na divindade (caso das seitas modalistas). As Escrituras ensinam desde o Antigo Testamento até o Novo a existência de um só Deus. No entanto, com o advento de Jesus a Terra e a composição da revelação escriturística cristã, além do Pai (1 Pe 1.2), outras duas Pessoas são chamadas Deus: O Filho (Jo 1.1; 10.33; Rm 9.5; Fp 2.6; Cl 2.9; 1 Tm 3.16; Tt 2.13; Hb 1.8; 1 Jo 5.20) e o Espírito Santo (At 5.3,4). Ora, a própria Torre de Vigia para defender suas heréticas convicções de que Deus não pode ser uma Trindade, diz que Deus não é de confusão (1 Co 14.33). E a confusão quem faz são as próprias TJs. Se existem Três diferentes e distintas Pessoas na divindade e as Escrituras afirmam e reafirmam o monoteísmo, a conclusão lógica e coerente é que não pode haver três deuses, mas um Deus que subsiste em três Pessoas. Assim, não há nem um absurdo nem algo ilógico Jesus (uma Pessoa) orar ao Pai (outra Pessoa). De maneira análoga o próprio Jesus afirma que os cristãos devem ser "um" no Pai e no Filho da mesma forma que Ele e o Pai são "um" e harmonia e comunhão (Jo 17.21). Então, se somos "um" com o Pai e o Filho seria ilógico também orarmos aos dois, já que aquilo que se encontra unido não necessita ser reunido. Acontece que assim como ainda não estamos literalmente na presença de Deus nos céus e precisamos orar a Ele para termos acesso a Sua presença, Jesus na Terra deixou temporariamente a presença do Pai e precisava orar a Ele devido aos limites impostos pela Sua Encarnação. Assim, na cruz, o Senhor não estava orando a Si mesmo como sofismam as TJs, Ele estava orando a outra Pessoa divina, o Pai.
Agora, quanto a questão de Deus não poder morrer, isto é outra técnica (muito frágil para os mais fundamentados na Palavra, por sinal) de persuasão russellita para os incautos e vacilantes. Se Deus na Pessoa do Filho não Se fizesse homem, óbvio! Jamais poderia morrer! O aço ou qualquer outra liga metálica só pode ser manipulada num estado líquido à temperatura de aproximadamente 1.500 graus Celsius. Não sendo assim, seria simplesmente impossível produzir algo para a indústria a partir dele. Da mesma forma seria impossível o Filho de Deus morrer se não tomasse a natureza humana. Jesus não morreu como Deus, morreu como Homem. Além do mais se Jesus viesse simplesmente como Deus, o Plano de Redenção não poderia ser realizado, pois o Pecado Original exigia a remissão através do sangue de um ser humano justo, puro, santo (Hb 9.14,22), assim como eram Adão e Eva antes da Queda. Há um princípio jurídico de equivalência no ato redentor de Cristo no qual um casal humano anteriormente perfeito necessitava ser remido por um humano perfeito. Além de Deus não poder realmente morrer, não foi Deus que pecou, mas o homem. Assim, a morte de Jesus só foi possível porque o "Verbo se fez carne" (Jo 1.14).
5- Jesus é inferior a Deus (o Pai) porque no fim Se sujeitará a Ele (1 Co 15.28). Na tentativa de provar suas fraudes teológicas, a STV desencava qualquer texto isolado que aparentemente fundamente suas crenças arianas.
RESPOSTA: Se a mesma indagação vale para questionar a igualdade de Jesus com o Pai, então serve para perguntarmos às testemunhas de Russell e Rutherford se até esse período Jeová teve a Sua soberania obliterada pelo reinado de Cristo (v.v. 24,25). A questão aqui não é de igualdade ou inferioridade entre o Pai e o Filho, mas de hierarquia funcional e harmonia entre as Pessoas divinas. Há hierarquia no céu e hierarquia remete naturalmente a função. Entre as hostes angelicais há arcanjo, serafins, querubins, tronos, principados, autoridade e potestades (Jd 9; 1 Ts 4.16; Is 6.2; Ez 10.1-3; Cl 1.16). Todavia, a Bíblia diz que essencialmente eles são todos iguais, pois todos são espíritos (Hb 1.14). A diferença está na função que cada um desempenha. Miguel é uma espécie de administrador e protetor dos interesses divinos em relação a Israel (Dn 12.1). Os querubins têm uma ligação ao trono de Deus (1 Sm 4.4; 2 Rs 19.15; Sl 80.1; 99.1; Is 37.16). Os serafins estão ligados ao serviço de adoração e louvor a Deus (Is 6.1-3), etc. Semelhantemente há uma hierarquia entre as três Pessoas da Santíssima Trindade. O Filho dá testemunho do Pai e O glorifica (Jo 17.4,6); o Espírito Santo dá testemunho do Filho e O glorifica (Jo 16.14). Entretanto, o mesmo Pai dá testemunho do Filho e O glorifica (Mt 3.17; Jo 17.1,5). O fato de um subalterno honrar e obedecer ao seu superior numa empresa não quer dizer que lhe é inferior em natureza, pois ambos são seres humanos de carne e ossos. Da mesma forma, ao Se submeter ao Pai, o Filho não-Lhe está sendo inferior em natureza, mas apenas cumprindo Sua função na hierarquia divina. Será que as TJs teriam coragem de dizer que Jeová está Se submetendo a Jesus ao lerem que o Pai glorifica o Filho? Desse  modo, o que o texto de 1 Co 15.28 quer dizer é que na consumação de todas as coisas todos, inclusive o Filho, serão um no Pai e para Ele tudo e todos convergirão numa perfeita harmonia eterna.
6- Jesus nunca disse ser Deus (Jo 17.3) e afirmou que o Pai era maior do que Ele (Jo 14.28). A STV sofisma que Jesus nunca afirmou ser Deus, mas o Filho de Deus e isso corrobora a sua crença de que Ele é uma criatura, um "deus menor".
RESPOSTA: Jesus de fato nunca disse verbalmente "sou Deus", mas o próprio Jeová assim O chama "Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino" (Hb 1.8). Diante da clareza dessa declaração do próprio Pai, a Torre de Vigia verteu a sentença na TNM colocando o substantivo Deus como sujeito passivo e remetendo-o ao próprio Pai "Deus é o seu trono para todo o sempre...". Criaram um nonsense total, já que se é o Pai que fala por que não diz "Eu sou o seu trono"? Se o trono de Cristo é o Seu Pai, logo, quem reinará até esse reino ser entregue a Deus? (1 Co 15.28). E mais: Onde fica a doutrina russellita que diz que Cristo governa desde 1914 como "Rei Ungido" de Jeová?
A respeito de Jesus ter dito em Jo 17.3 para que se conheça ao Pai como único Deus verdadeiro, se isto exclui Jesus da única divindade verdadeira, então Jeová também está excluído do senhorio sobre o universo, pois Judas diz que Jesus é o único dominador e Senhor (Jd 4b). Então, claro está que as palavras de Jesus não podem ser compreendidas à luz do monoteísmo ariano da STV. Se em Jesus o Pai Se revelou de forma plena e especial (Jo 1.18; 14.9), a conclusão óbvia é que Cristo está apenas realçando em outras palavras ser o único caminho para se conhecer o Pai (Jo 14.6). Agora, interessante é que Jesus coloca a necessidade de se conhecê-Lo no mesmo nível de importância de se conhecer ao Pai.
Mas voltando ao assunto de Jesus nunca ter dito verbalmente "sou Deus", Ele pode realmente não ter Se expressado nessas palavras, entretanto, quer declaração mais aberta do que ter dito "EU SOU"? (Jo 8.58). Além disso, Ele permitiu ser adorado (Mt 14.33); foi chamado de Deus por Tomé e não o repreendeu por isso (Jo 20.28,29) e ainda foi chamado de Deus por João (Jo 1.1; 1 Jo 5.20) e por Paulo (Rm 9.5).
Quanto ao ter dito ser o Pai maior do que Ele, basta dar um pulo em Hb 2.9 para entendermos que Jesus em Sua humanidade foi feito menor até do que os anjos, imagina em relação ao Pai! Agora perguntamos: após sua ressurreição e ascensão, Cristo permanece inferior aos anjos? Da mesma forma, ao retornar aos céus, Jesus retomou a Sua igualdade com o Pai antes que houvesse mundo (Jo 17.5). Isto serve para refutar inclusive o último assunto deste artigo.
7- O fato de Jesus não saber o dia da Sua volta prova que Ele não é igual ao Pai? (Mt 24.36). Esse é um dos textos prediletos dos neo-discípulos de Ário na luta contra a Trindade. Talvez seja o seu cavalo-de-batalha favorito.
RESPOSTA: Que Jesus está afirmando nessa passagem desconhecer o dia da Sua volta ninguém pode negar. Mas biblicamente em que implica Ele não saber? E sob qual condição Ele não sabia? Independente se Mateus escreveu seu evangelho por volta do ano 60 ou 90 d.C., o fato é que quando Paulo escreveu sua carta aos colossenses (ano 61-63 para a maioria dos estudiosos), Cristo já havia ascendido aos céus praticamente há três décadas. E nela, o doutor dos gentios registra que nEle "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Cl 2.3). Será que a Torre de Vigia poderia colocar um de seus famosos colchetes nessa passagem com a frase "exceto a Sua volta"? Até poderia porque a horda de falsificadores do Brooklyn já fez coisa pior. Se trinta anos mais tarde, Paulo ousa dizer que não há nada que Cristo não saiba, a conclusão sensata é que Ele não sabia o dia da Sua volta na condição humana em que Se encontrava. Por mais que pareça simplório, essa é a única explicação plausível com o que as Escrituras revelam a respeito do Filho de Deus. Pra encerrar, a expressão "Filho de Deus" não representa o que a STV ensina, ou seja, de que Jesus não é Deus, mas Filho de Deus. Se Jesus é Filho de Deus, logo é igual a Ele em natureza, assim como o filho de um casal humano tem a mesma natureza humana de seus pais. Os fariseus sabiam desse princípio de equivalência e por isso quiseram apedrejar a Jesus por se igualar a Deus dizendo que Este era Seu Pai (Jo 5.18).