Alguns "santos" católicos |
Qual o problema em se possuir ou venerar uma imagem religiosa? Não foram as pessoas representadas por elas cristãs e servas de Deus exemplares, as quais inspiram a fé dos que lhes veneram? Bom, fosse assim na prática como no discurso, realmente não haveria muitos problemas, pois veríamos pessoas esclarecidas e plenamente conscientes de que a honra, a glória e o culto cristão só se presta a um Ser: ao próprio Deus. Contudo, isso não é assim quando investigamos criteriosamente as atitudes da maioria esmagadora das pessoas em relação às imagens religiosas.
Há muito que os padres justificam o uso de ícones no culto católico-romano dizendo que lá atrás as imagens eram "a Bíblia dos iletrados". Bom, isso foi lá na Idade Média na qual realmente eram muito poucos os que sabiam ler e escrever. Contudo, em pleno século XXI, essa evasiva ainda serviria para justificar a intensa relação dos católicos com as imagens que dizem apenas representar "aqueles que estão lá no céu?".
A verdade é que embora os padres - especialmente os jesuítas - tentem eufemizar a clara e cristalina prática de idolatria no culto às imagens, o fato histórico é que a devoção às mesmas não tem embasamento na doutrina apostólica - embora a igreja romana assim se intitule.
A adoção das imagens como representação do sagrado surgiu e foi difundida a todas as culturas antigas através do paganismo. E por que o paganismo adotou esta forma esdrúxula de reverenciar o sagrado? É que após a Queda de Adão o homem foi perdendo cada vez mais a noção sobre o único e verdadeiro Deus. A sensibilidade espiritual foi ficando cada vez mais turva e obscurecida, embora antes que a Bíblia começasse a ser composta por Moisés em cerca de 1600 a.C., a tradição oral sobre Deus ainda pudesse ser conservada. Mesmo na época de Noé (Gn 6.1-8), ainda não vemos vestígio de idolatria nem de um nascedouro de algum sistema religioso organizado. O ser humano, como dizem as Escrituras, tornara-se corrupto moralmente falando, violento e fanfarrão, mas não idólatra.
Muito provavelmente foi em Babel (ou Babilônia), através de Ninrode, o primeiro ditador da história (Gn 10.8-12; 11.1-9), que o primeiro sistema religioso humano começou a ser organizado. Os intentos deste descendente da terceira geração de Noé e seus maléficos planos de rebelião aberta contra Deus incluíam não somente criar uma sociedade antiteocêntrica, mas um culto que desafiasse Àquele que merece toda honra e toda glória. A maioria dos estudiosos e pesquisadores é unânime em afirmar que a famosa Torre de Babel se tratava de um "templo" idólatra em direção ao céu. Quer dizer, o objetivo de Ninrode era promover a adoração aos astros e corpos celestes. Isso a princípio foi frustrado com a confusão das línguas, mas dentro de pouco tempo surgem os primeiros deuses - não sem razão - ligados ao culto idólatra do que a Bíblia denomina "exército dos céus". Baal, por exemplo, era identificado antigamente ao Sol e assim como este astro quase sempre foi considerado o rei do universo, o próprio teônimo "Baal" no hebraico e outras línguas semíticas antigas significa "senhor" ou "aquele que governa" ou "ele possui", neste aspecto com o sentido de dono, marido. Mais tarde, com a propagação do culto a esse deus em outras culturas pagãs, ele vai ser associado aos planetas Saturno e Júpiter, bem como vai receber diferentes denominações como Baal-Peor entre os moabitas. Não sem razão este mesmo conceito denominacional de aculturar o mesmo deus ao local e à cultura aonde ele foi absorvido, foi adotado no catolicismo romano para designar as várias "manifestações" e "aparições" de Nossa Senhora pelo mundo - evidentemente católico. Em Portugal ela recebeu o título de Nossa Senhora de Fátima; na França de Nossa Senhora de Lourdes, no México de Nossa Senhora de Guadalupe, no Brasil de Nossa Senhora Aparecida, etc. Curioso é que ela nunca apareceu num país de maioria protestante. Por que será?
Mas voltando à nossa linha de raciocínio inicial, a idolatria surge num primeiro momento como uma afronta ao Criador. Com o tempo, ela encontra guarida na vida dos povos pagãos pela necessidade intrínseca do ser humano em cultuar algo que lhe seja superior. O homem foi criado por Deus com a capacidade ímpar de se relacionar com o seu Criador, mas com a entrada do pecado no mundo aquele foi se afastando cada vez mais dEste e a saída para aplacar a consciência humana foi a criação de seus próprios deuses e sistemas religiosos. O culto às imagens é um expediente artificial de uma humanidade que perdeu a visão espiritual e agora tateia no escuro precisando do elemento físico e tangível para acessar o sobrenatural. E não adianta os padres lançarem mão de argumentos toscos e infantis para defenderem seus paroquianos da acusação de idolatria, porque no diálogo de Jesus com a mulher samaritana o Senhor deixou bem explícito a natureza da genuína e exclusiva adoração que Deus aceita. Quando o Mestre diz "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23), Ele está afirmando isso com base na premissa de que a essência do verdadeiro e único Deus é puramente espiritual, diz Ele "Deus é Espírito" (v.24). Embora sendo uma Pessoa real, Deus não é um personagem físico para que seja representando por meio de objetos físicos e tangíveis. Se a essência de Deus é espiritual, a única forma de adoração aceita por Ele é espiritual.
O culto às imagens - distinguido inutilmente pelos jesuítas em hiperdulia (veneração que se presta à Maria) e dulia (veneração que se presta aos santos) não sendo, segundo eles um caso de latria (adoração que se presta a Deus) - segue uma linha de pensamento em que seria possível adorar a Deus através daqueles que lhes dedicaram uma vida consagrada e piedosa. Pode-se chamar isto de adoração relativa. Mas será que Deus aceitaria uma forma de adoração indireta ou por procuração? Isaías registra de maneira inequívoca as palavras do próprio Deus em seu livro que "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome, a minha glória, pois a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura..." (Is 42.8).
Então o que se pode depreender claramente dessa assertiva divina é a impossibilidade do Criador ser honrado por intermédio de suas criaturas. O que acontece quando o ser humano presta culto a uma imagem é justamente o contrário: Deus é desonrado, pois é trocado inadvertidamente por suas criaturas - neste caso, as pessoas que outrora existiram e são teoricamente representadas pela arte religiosa. Concluí-se então que a apologia jesuítica não passa de um mero jogo-de-palavras, um sofisma para dissimular o afã idólatra de realmente tratar aquele objeto religioso como se fosse algo vivo. Vejam: a maioria absoluta dos católicos - estimo em 98% - cultiva a mais absoluta ignorância de quais sejam os parâmetros para se aferir o verdadeiro cristianismo. Na verdade, eles não conhecem profundamente nem a sua própria fé católica e muito menos se importam se o que estão praticando é genuinamente cristão ou não. Como geralmente são pessoas que vivem à margem da igreja, frequentando missas apenas ocasionalmente e por conveniência, eles possuem apenas uma concepção relativa da religião. Seus jargões mais famosos são que "o importante é ter fé" ou que "cada um com a sua fé".
Esses paupérrimos pressupostos têm até algum sentido quando o assunto seja o livre-arbítrio humano, mas não para caracterizar a autêntica fé cristã. Fé que se vê simplesmente não é fé, pois se o que se chama de fé é incapaz de dispensar o visível e o tangível, isto já deixou de ser fé, é incredulidade. Ao receber a notícia de que Jesus havia ressuscitado dos mortos, o apóstolo Tomé, vacilante, asseverou "Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei" (Jo 20.25). O contexto desta passagem diz que oito dias depois Jesus apareceu novamente aos discípulos e daquela vez Tomé estava presente (v.26). Foi então que o Senhor lhe jogou em rosto sua incredulidade "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado, não sejas incrédulo, mas crente" (v.27). Ao que Tomé agora convencido e censurado por sua fé condicional, exclamou "Senhor meu, e Deus meu!" (v.28). Jesus retrucou dizendo-lhe "Porque me viste, Tomé, creste, bem-aventurados os que não viram e creram!" (v.29).
É cristalino no contexto dessa passagem que fé não se apoia naquilo que vemos, mas no que não vemos. O autor da carta aos Hebreus ratifica isso ao dizer que "...a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem" (Hb 11.1). E ainda Paulo nos diz que o sentido a ser atingido pela fé é a audição e não a visão (Rm 10.17). Quando ainda novo-convertido, ouvia sempre certo pastor já veterano de minha cidade dizer no rádio "A fé crê no incrível, ouve o inaudível e vê o invisível". Nenhuma relação de fé dos grandes patriarcas, profetas e apóstolos da Bíblia foi pautada no visível. Uma das poucas exceções e ainda bem diferente do uso que se faz de imagens foi o caso de Gideão (Jz 6.17-22; 36-40).
O grande erro no uso das imagens religiosas é que em sua prática, o devoto canaliza para um objeto sem vida todo o seu esforço físico, psicológico, mental e espiritual no qual ele rigorosamente não faz nenhuma distinção entre venerar e adorar como sofismam os padres jesuítas. Na verdade, não existe nenhuma diferença entre os termos latino e grego no qual se pudesse distinguir adorar de venerar. Adorare no latim quer dizer render culto, reverenciar, venerar, amar extremosamente; lautreo no grego significa adorar, servir, prestar serviço sagrado. A própria palavra devoção, no latim devotione, segundo uma página católica da Canção Nova chamada formacao.cancaonova.com significa afeição, dedicação, sacrifício e culto. Ou seja, semanticamente não há diferença alguma entre adorar e venerar.
Curioso é que na mesma página católica, o autor do artigo intitulado "A Igreja Católica e as imagens", o palestrante, escritor e apresentador do programa Desenvolvendo Talentos, Daniel Godri Júnior, admite que em "quase dois mil anos" - um anacronismo proposital, pois a Igreja Católica possui na verdade 1.700 anos - a mesma cometeu erros e justifica tais erros tanto devido à sua longevidade quanto pelo fato de possuir 1 bilhão e meio de seguidores. Também admite em certo parágrafo haver uma exagero no culto às imagens, culpando a ignorância de muitos católicos como explicação para isso. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que ele afirma que a Igreja Católica enquanto instituição é "santa" e não erra, ele admite em outras palavras que muitos católicos acabam mesmo por praticar idolatria por ignorância ao se excederem em sua devoção às imagens. Ora, se o Magistério católico é responsável por nortear as práticas dos fiéis, quem errou? O vento? Se os ignorantes praticam idolatria por desconhecimento, por que não os ensinar? Se mesmo a Igreja ensinando-os continuou a haver erros, por que não cortar o mal pela raiz banindo o uso das imagens no culto católico?
O autor comete o velho e falacioso desatino de citar os casos da serpente de bronze que Deus mandou Moisés construir no deserto como tipo do sacrifício de Cristo (Nm 21.4-9) e dos querubins de ouro que foram postos no propiciatório sobre a tampa da arca do concerto (Êx 25.10-22) para justificar biblicamente o uso das imagens pelos católicos. Não quero me deter nesse assunto, pois tornaria o artigo longo demais. Entretanto, basta dizer que quando os judeus quiseram cultuar a mesma serpente de bronze muitos séculos mais tarde (igualmente como os católicos fazem com suas imagens) o justo rei Ezequias procedeu à sua destruição (2 Rs 18.4). Quanto aos querubins do propiciatório, eles ficavam isolados junto com a arca do concerto no compartimento mais restrito do tabernáculo, o santo dos santos, onde só o sumo-sacerdote tinha acesso uma vez por ano. Nenhum israelita, mesmo que quisesse, tinha como "venerar" tais anjos os quais simbolizavam a santidade de Deus no AT; e se o fizessem, certamente seriam imediatamente fulminados, pois seria uma caso de idolatria.
Como dissemos antes, a adoção das imagens pela Igreja Católica foi uma herança, uma espécie de reminiscência do paganismo no seio da cristandade. No ano 375 - portanto, exatos 50 anos após Constantino ter fundado o catolicismo romano -, foi introduzido o culto aos santos como resultado de um sincretismo com o culto pagão de seus deuses e deusas. No ano 787, no segundo Concílio de Niceia, convocado pela imperatriz Irene é que se estabeleceu oficialmente o culto aos santos e às imagens. E no ano 993 deu-se a famigerada canonização dos santos, uma escusa forma do catolicismo manter o seu nefasto domínio político, religioso, e econômico sobre as nações nas quais prevalece.
Para encerrar, ainda tentando defender a Igreja Católica da acusação de idólatra, o mesmo Godri Júnior afirma que o erro católico não é fabricar as imagens e sim as idolatrar... Trata-se de um total nonsense equivalente a dizer que um ladrão que invadisse a sua casa armado não cometeu crime, pois não conseguiu levar nenhum bem o qual lhe pertence. Por isso, o Decálogo em seu 2º mandamento é claro ao proibir primeiramente o fazer, pois em fazendo o ser humano não consegue ficar imune à tentação de cultuar a tal imagem (Êx 20.4,5). Não à toa vemos o Sl 115, na plena acepção da palavra escarnecendo das imagens dizendo que elas têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; têm garganta, mas som nenhum sai dela. E arremata dizendo que tanto os que as fabricam quanto os que as cultuam (dirigem-lhes preces, louvores, acendem-lhes velas ou se ajoelham diante delas) tornam-se iguaizinhos a elas: têm fisicamente todos os órgãos necessários para os cinco sentidos, mas perderam completamente a sensatez, trocando estupidamente o Deus vivo por um objeto inócuo e sem vida.
Muito provavelmente foi em Babel (ou Babilônia), através de Ninrode, o primeiro ditador da história (Gn 10.8-12; 11.1-9), que o primeiro sistema religioso humano começou a ser organizado. Os intentos deste descendente da terceira geração de Noé e seus maléficos planos de rebelião aberta contra Deus incluíam não somente criar uma sociedade antiteocêntrica, mas um culto que desafiasse Àquele que merece toda honra e toda glória. A maioria dos estudiosos e pesquisadores é unânime em afirmar que a famosa Torre de Babel se tratava de um "templo" idólatra em direção ao céu. Quer dizer, o objetivo de Ninrode era promover a adoração aos astros e corpos celestes. Isso a princípio foi frustrado com a confusão das línguas, mas dentro de pouco tempo surgem os primeiros deuses - não sem razão - ligados ao culto idólatra do que a Bíblia denomina "exército dos céus". Baal, por exemplo, era identificado antigamente ao Sol e assim como este astro quase sempre foi considerado o rei do universo, o próprio teônimo "Baal" no hebraico e outras línguas semíticas antigas significa "senhor" ou "aquele que governa" ou "ele possui", neste aspecto com o sentido de dono, marido. Mais tarde, com a propagação do culto a esse deus em outras culturas pagãs, ele vai ser associado aos planetas Saturno e Júpiter, bem como vai receber diferentes denominações como Baal-Peor entre os moabitas. Não sem razão este mesmo conceito denominacional de aculturar o mesmo deus ao local e à cultura aonde ele foi absorvido, foi adotado no catolicismo romano para designar as várias "manifestações" e "aparições" de Nossa Senhora pelo mundo - evidentemente católico. Em Portugal ela recebeu o título de Nossa Senhora de Fátima; na França de Nossa Senhora de Lourdes, no México de Nossa Senhora de Guadalupe, no Brasil de Nossa Senhora Aparecida, etc. Curioso é que ela nunca apareceu num país de maioria protestante. Por que será?
Mas voltando à nossa linha de raciocínio inicial, a idolatria surge num primeiro momento como uma afronta ao Criador. Com o tempo, ela encontra guarida na vida dos povos pagãos pela necessidade intrínseca do ser humano em cultuar algo que lhe seja superior. O homem foi criado por Deus com a capacidade ímpar de se relacionar com o seu Criador, mas com a entrada do pecado no mundo aquele foi se afastando cada vez mais dEste e a saída para aplacar a consciência humana foi a criação de seus próprios deuses e sistemas religiosos. O culto às imagens é um expediente artificial de uma humanidade que perdeu a visão espiritual e agora tateia no escuro precisando do elemento físico e tangível para acessar o sobrenatural. E não adianta os padres lançarem mão de argumentos toscos e infantis para defenderem seus paroquianos da acusação de idolatria, porque no diálogo de Jesus com a mulher samaritana o Senhor deixou bem explícito a natureza da genuína e exclusiva adoração que Deus aceita. Quando o Mestre diz "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23), Ele está afirmando isso com base na premissa de que a essência do verdadeiro e único Deus é puramente espiritual, diz Ele "Deus é Espírito" (v.24). Embora sendo uma Pessoa real, Deus não é um personagem físico para que seja representando por meio de objetos físicos e tangíveis. Se a essência de Deus é espiritual, a única forma de adoração aceita por Ele é espiritual.
O culto às imagens - distinguido inutilmente pelos jesuítas em hiperdulia (veneração que se presta à Maria) e dulia (veneração que se presta aos santos) não sendo, segundo eles um caso de latria (adoração que se presta a Deus) - segue uma linha de pensamento em que seria possível adorar a Deus através daqueles que lhes dedicaram uma vida consagrada e piedosa. Pode-se chamar isto de adoração relativa. Mas será que Deus aceitaria uma forma de adoração indireta ou por procuração? Isaías registra de maneira inequívoca as palavras do próprio Deus em seu livro que "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome, a minha glória, pois a outrem não darei, nem o meu louvor, às imagens de escultura..." (Is 42.8).
Então o que se pode depreender claramente dessa assertiva divina é a impossibilidade do Criador ser honrado por intermédio de suas criaturas. O que acontece quando o ser humano presta culto a uma imagem é justamente o contrário: Deus é desonrado, pois é trocado inadvertidamente por suas criaturas - neste caso, as pessoas que outrora existiram e são teoricamente representadas pela arte religiosa. Concluí-se então que a apologia jesuítica não passa de um mero jogo-de-palavras, um sofisma para dissimular o afã idólatra de realmente tratar aquele objeto religioso como se fosse algo vivo. Vejam: a maioria absoluta dos católicos - estimo em 98% - cultiva a mais absoluta ignorância de quais sejam os parâmetros para se aferir o verdadeiro cristianismo. Na verdade, eles não conhecem profundamente nem a sua própria fé católica e muito menos se importam se o que estão praticando é genuinamente cristão ou não. Como geralmente são pessoas que vivem à margem da igreja, frequentando missas apenas ocasionalmente e por conveniência, eles possuem apenas uma concepção relativa da religião. Seus jargões mais famosos são que "o importante é ter fé" ou que "cada um com a sua fé".
Esses paupérrimos pressupostos têm até algum sentido quando o assunto seja o livre-arbítrio humano, mas não para caracterizar a autêntica fé cristã. Fé que se vê simplesmente não é fé, pois se o que se chama de fé é incapaz de dispensar o visível e o tangível, isto já deixou de ser fé, é incredulidade. Ao receber a notícia de que Jesus havia ressuscitado dos mortos, o apóstolo Tomé, vacilante, asseverou "Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei" (Jo 20.25). O contexto desta passagem diz que oito dias depois Jesus apareceu novamente aos discípulos e daquela vez Tomé estava presente (v.26). Foi então que o Senhor lhe jogou em rosto sua incredulidade "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado, não sejas incrédulo, mas crente" (v.27). Ao que Tomé agora convencido e censurado por sua fé condicional, exclamou "Senhor meu, e Deus meu!" (v.28). Jesus retrucou dizendo-lhe "Porque me viste, Tomé, creste, bem-aventurados os que não viram e creram!" (v.29).
É cristalino no contexto dessa passagem que fé não se apoia naquilo que vemos, mas no que não vemos. O autor da carta aos Hebreus ratifica isso ao dizer que "...a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem" (Hb 11.1). E ainda Paulo nos diz que o sentido a ser atingido pela fé é a audição e não a visão (Rm 10.17). Quando ainda novo-convertido, ouvia sempre certo pastor já veterano de minha cidade dizer no rádio "A fé crê no incrível, ouve o inaudível e vê o invisível". Nenhuma relação de fé dos grandes patriarcas, profetas e apóstolos da Bíblia foi pautada no visível. Uma das poucas exceções e ainda bem diferente do uso que se faz de imagens foi o caso de Gideão (Jz 6.17-22; 36-40).
O grande erro no uso das imagens religiosas é que em sua prática, o devoto canaliza para um objeto sem vida todo o seu esforço físico, psicológico, mental e espiritual no qual ele rigorosamente não faz nenhuma distinção entre venerar e adorar como sofismam os padres jesuítas. Na verdade, não existe nenhuma diferença entre os termos latino e grego no qual se pudesse distinguir adorar de venerar. Adorare no latim quer dizer render culto, reverenciar, venerar, amar extremosamente; lautreo no grego significa adorar, servir, prestar serviço sagrado. A própria palavra devoção, no latim devotione, segundo uma página católica da Canção Nova chamada formacao.cancaonova.com significa afeição, dedicação, sacrifício e culto. Ou seja, semanticamente não há diferença alguma entre adorar e venerar.
Curioso é que na mesma página católica, o autor do artigo intitulado "A Igreja Católica e as imagens", o palestrante, escritor e apresentador do programa Desenvolvendo Talentos, Daniel Godri Júnior, admite que em "quase dois mil anos" - um anacronismo proposital, pois a Igreja Católica possui na verdade 1.700 anos - a mesma cometeu erros e justifica tais erros tanto devido à sua longevidade quanto pelo fato de possuir 1 bilhão e meio de seguidores. Também admite em certo parágrafo haver uma exagero no culto às imagens, culpando a ignorância de muitos católicos como explicação para isso. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que ele afirma que a Igreja Católica enquanto instituição é "santa" e não erra, ele admite em outras palavras que muitos católicos acabam mesmo por praticar idolatria por ignorância ao se excederem em sua devoção às imagens. Ora, se o Magistério católico é responsável por nortear as práticas dos fiéis, quem errou? O vento? Se os ignorantes praticam idolatria por desconhecimento, por que não os ensinar? Se mesmo a Igreja ensinando-os continuou a haver erros, por que não cortar o mal pela raiz banindo o uso das imagens no culto católico?
O autor comete o velho e falacioso desatino de citar os casos da serpente de bronze que Deus mandou Moisés construir no deserto como tipo do sacrifício de Cristo (Nm 21.4-9) e dos querubins de ouro que foram postos no propiciatório sobre a tampa da arca do concerto (Êx 25.10-22) para justificar biblicamente o uso das imagens pelos católicos. Não quero me deter nesse assunto, pois tornaria o artigo longo demais. Entretanto, basta dizer que quando os judeus quiseram cultuar a mesma serpente de bronze muitos séculos mais tarde (igualmente como os católicos fazem com suas imagens) o justo rei Ezequias procedeu à sua destruição (2 Rs 18.4). Quanto aos querubins do propiciatório, eles ficavam isolados junto com a arca do concerto no compartimento mais restrito do tabernáculo, o santo dos santos, onde só o sumo-sacerdote tinha acesso uma vez por ano. Nenhum israelita, mesmo que quisesse, tinha como "venerar" tais anjos os quais simbolizavam a santidade de Deus no AT; e se o fizessem, certamente seriam imediatamente fulminados, pois seria uma caso de idolatria.
Como dissemos antes, a adoção das imagens pela Igreja Católica foi uma herança, uma espécie de reminiscência do paganismo no seio da cristandade. No ano 375 - portanto, exatos 50 anos após Constantino ter fundado o catolicismo romano -, foi introduzido o culto aos santos como resultado de um sincretismo com o culto pagão de seus deuses e deusas. No ano 787, no segundo Concílio de Niceia, convocado pela imperatriz Irene é que se estabeleceu oficialmente o culto aos santos e às imagens. E no ano 993 deu-se a famigerada canonização dos santos, uma escusa forma do catolicismo manter o seu nefasto domínio político, religioso, e econômico sobre as nações nas quais prevalece.
Para encerrar, ainda tentando defender a Igreja Católica da acusação de idólatra, o mesmo Godri Júnior afirma que o erro católico não é fabricar as imagens e sim as idolatrar... Trata-se de um total nonsense equivalente a dizer que um ladrão que invadisse a sua casa armado não cometeu crime, pois não conseguiu levar nenhum bem o qual lhe pertence. Por isso, o Decálogo em seu 2º mandamento é claro ao proibir primeiramente o fazer, pois em fazendo o ser humano não consegue ficar imune à tentação de cultuar a tal imagem (Êx 20.4,5). Não à toa vemos o Sl 115, na plena acepção da palavra escarnecendo das imagens dizendo que elas têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; têm garganta, mas som nenhum sai dela. E arremata dizendo que tanto os que as fabricam quanto os que as cultuam (dirigem-lhes preces, louvores, acendem-lhes velas ou se ajoelham diante delas) tornam-se iguaizinhos a elas: têm fisicamente todos os órgãos necessários para os cinco sentidos, mas perderam completamente a sensatez, trocando estupidamente o Deus vivo por um objeto inócuo e sem vida.