Meu caro xará, que o Deus triúno de infinita bondade e misericórdia, que é Deus eternamente (Sl 90.2) e não divide a Sua glória com ninguém (Is 42.8) Se revele a você - nem que seja no crepúsculo de sua vida. Como já lhe falei, há 26 anos deixei o mormonismo e o fato de ter conhecido as doutrinas distintivas desse grupo e a comparação com a ortodoxia cristã despertou em mim o desejo de me aprofundar na apologética cristã. Não me tornei apologista para simplesmente afrontar o mormonismo - embora tenha de fato precisado muito disso logo de imediato devido à insistência e presunção dos missionários mórmons. Era praticamente uma inquisição pelo fato de, com o meu testemunho, o Espírito Santo (Jo 16.8) ter resgatado alguns membros de lá. O chamado à apologética cristã tem na Bíblia o seu fundamento (1 Pe 3.15; Jd 3b) e quando se trata de defender a Verdade não se tem como alvo este ou aquele grupo, mas todos os grupos heterodoxos que não só se opõem ao cristianismo ortodoxo, mas reinterpretam a própria Bíblia forjando a história para inserir a sua pretensa exclusividade antagônica.
Nesses anos todos tenho visto os mais absurdos sofismas, mas o pior é a desonestidade intelectual que grupos como as testemunhas de Jeová, por exemplo, lançam mão para manter seus adeptos psicologicamente e socialmente escravizados à elite dirigente.
Esse pode não ser exatamente o seu caso, mas ainda assim, surpreende-me o fato de seu muito bom nível de instrução não o deixar perceber o absurdo grotesco das referências que usa para advogar a causa mórmon da "Mãe Celestial". Fico pensando se realmente os mórmons mais esclarecidos como você se levam realmente a sério ou nutrem o mínimo de autorrespeito ao anularem suas liberdades individuais de não raciocinarem fora das afirmações doutrinárias que lhe são impostas. A sua citação ao historiador e antropólogo húngaro-judeu Raphael Patai e à escritora metodista Margaret Barker é um acinte ao bom senso. Aliás, a obscura doutrina da "Mãe Celestial" ultrapassa inclusive o limite do absurdo. Ela é uma verdadeira carnificina teológica, indigna até mesmo da afirmação do mormonismo em ser "o autêntico cristianismo".
Você em uma de suas mensagens diz "você ficará surpreso ao ver referências a Asherah em sua própria Bíblia".
Ora, amado, há mais de duas décadas e meia estudo a área de heresiologia, tenho 50 anos e, portanto, não tenho conhecimento superficial dessa disciplina e muito menos da Bíblia. O que me deixa estupefato e não exatamente surpreso é alguém bem instruído beber tão facilmente - como disse num de nossos diálogos - em fontes envenenadas para 'provar' algo que a meritocracia cristã já autodesqualifica automaticamente. Mas isso é uma característica comum a todo grupo religioso heterodoxo: justificar um erro com outro erro. Parece até que a máxima de Maquiavel "os fins justificam os meios" cabe bem a todos eles. Mas vamos ao que realmente interessa!
Nesses anos todos tenho visto os mais absurdos sofismas, mas o pior é a desonestidade intelectual que grupos como as testemunhas de Jeová, por exemplo, lançam mão para manter seus adeptos psicologicamente e socialmente escravizados à elite dirigente.
Esse pode não ser exatamente o seu caso, mas ainda assim, surpreende-me o fato de seu muito bom nível de instrução não o deixar perceber o absurdo grotesco das referências que usa para advogar a causa mórmon da "Mãe Celestial". Fico pensando se realmente os mórmons mais esclarecidos como você se levam realmente a sério ou nutrem o mínimo de autorrespeito ao anularem suas liberdades individuais de não raciocinarem fora das afirmações doutrinárias que lhe são impostas. A sua citação ao historiador e antropólogo húngaro-judeu Raphael Patai e à escritora metodista Margaret Barker é um acinte ao bom senso. Aliás, a obscura doutrina da "Mãe Celestial" ultrapassa inclusive o limite do absurdo. Ela é uma verdadeira carnificina teológica, indigna até mesmo da afirmação do mormonismo em ser "o autêntico cristianismo".
Você em uma de suas mensagens diz "você ficará surpreso ao ver referências a Asherah em sua própria Bíblia".
Ora, amado, há mais de duas décadas e meia estudo a área de heresiologia, tenho 50 anos e, portanto, não tenho conhecimento superficial dessa disciplina e muito menos da Bíblia. O que me deixa estupefato e não exatamente surpreso é alguém bem instruído beber tão facilmente - como disse num de nossos diálogos - em fontes envenenadas para 'provar' algo que a meritocracia cristã já autodesqualifica automaticamente. Mas isso é uma característica comum a todo grupo religioso heterodoxo: justificar um erro com outro erro. Parece até que a máxima de Maquiavel "os fins justificam os meios" cabe bem a todos eles. Mas vamos ao que realmente interessa!
A Bíblia fala de Azerá, mas referenda o seu culto?
Segundo Hestrin (1991), Azerá é citada cerca de 40 vezes no Antigo Testamento. Muito provavelmente a primeira referência à deusa cananeia da fertilidade está em Dt 16.21,22. A Almeida Revista e Corrigida (ARC) traduz a expressão por "bosque de árvores", já a Almeida Revista e Atualizada (ARA) traz o termo "poste-ídolo", a Edição Pastoral católica "poste sagrado". Há muito que se sabe que esses postes-ídolos são a representação de Azerá. Isso significa que o culto a essa divindade feminina, consorte de Baal, é extremamente antigo. Vários pesquisadores, entre eles Mary Schultze, apontam a origem desse culto pagão às lendas que se desenvolveram em torno da morte do personagem bíblico Ninrode, o primeiro homem a construir uma civilização antiteocêntrica tendo ele mesmo como líder (Gn 10.8-11; 11.1-9).
De acordo com uma dessas lendas descritas na Enciclopédia Britânica, Ninrode morreu quando sua esposa e mãe, Semíramis estava grávida dele. Seus súditos-adoradores criaram a lenda de que ele havia se tornado o deus-sol, o senhor do universo. Em vida o despotismo de Ninrode não tinha limites, tanto que se casou com sua própria mãe. Esta deu à luz a Tamuz - este veio a ser adorado posteriormente como Moloque pelos amonitas (Lv 20.1-5) - insinuando sua mãe ser ele a reencarnação de Ninrode.
Segundo ainda mais especificamente a EB, Tamuz foi morto por um porco ou javali selvagem quando ainda moço. Semíramis e suas mulheres serviçais o choraram e jejuaram por ele durante 40 dias até que ele foi trazido de volta à vida. Isso teria sido uma demonstração do poder de sua mãe de tê-lo trazido de volta à vida. Ela então veio a ser adorada com o título de "rainha dos céus" por ser a esposa do deus-sol (mais tarde, Baal que quer dizer "meu senhor"). A crença pagã na "rainha dos céus" se espalhou a vários povos, com diferentes nomes. Chegou a Canaã sob o título de Azerá, mas entre os fenícios era conhecida como Astarte (Ashtar) ou Asterote. Grandes navegadores, o fenícios difundiram essa crença pelo mundo antigo.
Foi contra este culto idólatra que o profeta Jeremias protestou vigorosamente (Jr 7.18; 44.15-19, 23,25) pouco antes do cativeiro de Judá. Este culto chegou às culturas clássicas da Grécia e de Roma como Cibele e seu filho Deoius, base original do culto católico-romano à Virgem Maria. O fato de Jeremias se opor a ele é prova por si só que não se trata de revelação divina e que jamais a Bíblia o referendou. Então por que o mormonismo o cita para fundamentar a sua esdrúxula crença na "Mãe Celestial"? Teriam as descobertas arqueológicas de Raphael Patai e os escritos de Margaret Barker mais autoridade do que a Palavra de Deus para dizer que os mórmons têm razão em defenderem a sua crença supra-pagã?
O fermento enrustido do racionalismo e do liberalismo teológico na teologia
Não é preciso ser doutor, meu caro Marcelo, basta ter pelo menos o ensino fundamental completo, para se saber que a partir da segunda metade do século XIX, o racionalismo tendo o homem como a medida de todas as coisas (antropocentrismo) e não mais Deus, começou uma empreitada de explicar a origem de todas as coisas sem o apoio da revelação divina. Esta seria ultrapassada, a causa do atraso científico na Idade Média, fruto da ignorância e da superstição religiosa, segundo seus proponentes. Partindo dessa premissa ateia, começou-se a tentar expurgar da Bíblia toda referência ao sobrenatural. Tendo como paradigma investigativo o evolucionismo de Darwin, a Palavra de Deus passou a ser encarada apenas como um livro humano com algum valor histórico, mas enxertada com mitos e lendas religiosas usadas para referendar algum domínio espiritual ou social sobre os homens.
Enquanto estou escrevendo agora fico me autoquestionando por que estou perdendo tempo com essa baboseira da "Mãe Celestial", se a própria Bíblia se encarrega de refutá-la como crença eminentemente pagã. Mas talvez porque mórmons não conhecem-na e você no alto de sua estultícia me desafiou dizendo que eu me surpreenderia com as referências bíblicas sobre ela.
Bom, meu caro, essa mesma linha de raciocínio do racionalismo diz entre outras coisas que o relato do Gênesis não passa de uma lenda nacional de Israel, não-original e inspirada em outras lendas correlatas de outros povos. A própria crença em Iavé (ou Jeová) no AT é reinterpretada como um produto do IX século a.C. promovida para fundamentar a preponderância de um deus masculino e assim substanciar o patriarcalismo hebreu. Nesse caso, interpreta-se que Iavé era apenas um Deus nacional antes co-adorado como El ao lado de sua consorte Azerá.
Em linhas gerais, esse é o mesmo argumento de Raphael Patai, que embora judeu, era um apóstata e racionalista moderno. Ora, os achados arqueológicos de objetos que fazem referência à Azerá não provam que supostos "redatores finais" do AT tendenciavam suprimir o culto a uma deidade feminina para promover o culto exclusivo a Iavé. Antes provam a coerência da Bíblia com a História e a arqueologia. Agora, eu posso achar uma bagana de cigarro no pátio de minha casa suja de sangue e dizer que a pessoa que o fumou cortou a boca. Se eu for incoerente, taxativo e inflexível querendo endeusar a minha tese, procurarei obcecadamente provar a todos que o fumante cortou-se na boca. Mas, e se o foi nos dedos???...
Dados, meu amado, podem ser manipulados ao sabor daquilo que se intenta transmitir como informação - nesse caso de Patai, desinformação. E qual é o peso disso para quem é incauto? O peso intelectual. Patai era antropólogo e o pior: era judeu. Mas assim é o mito do evolucionismo também. Pseudo-cientistas PHDs em genética, arqueologia, paleontologia exercitando uma verdadeira "fé" numa seita ateísta - travestida de ciência - tentando reconstruir a tal da estória dos elos evolutivos do homem através de um dente de uma espécie de porcos extinta...
Isso não é ciência. É manipulação e desonestidade intelectual. As mesmas que levaram Patai a escrever A Deusa Hebraica. Aliás, Patai escreveu também (em coautoria com Robert Graves) Mitos Hebraicos: O Livro de Gênesis, de 1983. Destarte, Patai era judeu por herança, mas tudo menos religiosamente ortodoxo. E a vossa magnânima pusilanimidade sectária, Marcelo, com as garras de um leão faminto e sedento foi deglutir. Nada mais natural, porém, em se tratando de um mórmon.
Já Margaret Barker (que você intitula "evangélica", na verdade ela é metodista, uma igreja herdeira do protestantismo histórico), de corrente teológica liberal alucinógena, inventou a Teologia do Templo, uma tese que resumidamente vê no ritualismo judaico do Templo elementos místicos com tendência ao gnosticismo. Nada ortodoxo, não? Suas fontes além do AT hebraico, a Septuaginta, os pergaminhos do Mar Morto e o NT grego são os apócrifos judaicos e cristãos, os pseudepígrafos e, claro, os textos gnósticos. Mas como o mormonismo gosta de misturar as coisas (é um absurdo sincretismo de sacerdotalismo judaico, paganismo, kardecismo, maçonaria e elementos da Nova Era, etc.,embrulhados na terminologia cristã) suas teses devem bem servir para você. A propósito, o livro dela citado por você, A Mãe do Senhor, procura traçar a origem da mariolatria católica nas fontes do paganismo. Se o conceito de uma Deusa Mãe é claramente uma crença enraizadamente pagã (mesmo que Barker queira dizer que algum dia os judeus a tenham encarado como ortodoxa), naturalmente não é cristã e por fim, está descrita na Bíblia como o incesto, o adultério, a fornicação e a poligamia, mas não é doutrina bíblica.
"Mas temo que, assim como serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis" (2 Co 11.3,4).
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