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Representação do episódio em Caná Fonte: Academia Marial |
Roma em seu desespero teológico de subsidiar a mariolatria nas páginas da Bíblia tem descido ao nível das seitas mais esdrúxulas como os mórmons ou as testemunhas de Jeová. Os teólogos romanos têm feito um esforço sobrecomum para forjar nas 16 passagens bíblicas em que a mãe de Jesus é referida diretamente uma suposta "mariologia". Uma das mais surradas pela igreja desviada é, sem dúvida, o episódio em que Jesus inicia o Seu ministério terreno nas Bodas de Caná, na Galileia (Jo 2.1-12). Ali, o magistério católico - que ufana-se de ter o direito exclusivo e registrado em cartório de interpretar as Escrituras - consegue enxergar, mais do que o início do ministério terreno de Jesus, uma suposta e indispensável "intercessão" de Maria sem a qual o milagre não teria ocorrido ou o Senhor o teria adiado para Jerusalém (Jo 2.13-17) e realizado o Seu primeiro sinal na própria Caná, mas na cura do filho de um oficial (cf. 4.43-54). Resumo da ópera: na teologia romana Jesus é quase ninguém sem a "intercessão" de Sua mãe. Mas será mesmo? O que ocorreu de fato em Caná com base na exegese e na hermenêutica bíblicas? Maria intercedeu de fato ou quis se intrometer? É o que vamos abordar como II parte da resposta à página Católicos Não Adoram Imagens. Vamos adotar aqui a versão católica da Bíblia "Edição Pastoral", da editora Paulus.
Pra começar, ao longo das narrativas evangélicas sobre a relação de Jesus com Sua mãe, notamos uma sensível discrepância de pontos-de-vista. Maria era sem dúvida uma mulher valorosa e temente a Deus (Lc 1.38), porém, evidentemente, Jesus sendo Deus e ciente de Sua missão, tinha uma visão mais transcendente. Maria olhava Jesus com seu olhar maternal; Jesus olhava o todo e todos com a necessidade precípua de conduzi-los a Seu Pai (Jo 6.38,39). Maria, embora serva de Deus, conduzia suas ações e impressões pelo prumo da vida presente "Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?" (Lc 1.34), perguntou ela a Gabriel. Não poucas vezes ela ficou sem compreender plenamente o que se dizia de Jesus e o que Ele fazia (Lc 2.33; cf. 48-51). Quando do episódio em que junto com seus outros filhos, foi em busca de Jesus (Lc 8.19-21), ela demonstrou estar claramente atrelada a um cordão umbilical que Jesus desde que iniciara Seu ministério fez questão de desatar. De certa forma, coisa de mãe... Mas vamos ao que realmente interessa!
A passagem das Bodas em Caná é mais uma daquelas que nos trazem meramente um texto DESCRITIVO e não PRESCRITIVO. Textos descritivos, em geral, não constituem nem devem constituir DOUTRINA. Aliás, todos os textos usados pelos apologetas católicos em defesa do marianismo são descritivos. Fazem parte de sua tentativa nefasta de manter o povo cego e cativo ao seu engodo religioso. O que mais nos interessa nos discursos dos 12 versículos sobre as Bodas, são:
- A preocupação de Maria (v.3);
- As palavras de Jesus a Maria (v. 4);
- A conclusão de Maria (v. 5).
Por inferência, o máximo que se pode intuir é que Maria já nutrisse alguma expectativa de Jesus Se revelar publicamente como o Messias. Em Caná, essa expectativa afluiu para uma necessidade particular: o constrangimento de uma família com o término do vinho. Maria diz: "Eles não têm mais vinho". Apesar de todo o simbolismo que envolvia o vinho numa festa de casamento na Palestina antiga, o que Maria quer denunciar a Jesus é o vexame social dos noivos. E por que Lucas expressa os sentimentos de Maria se não seriam relevantes para o milagre? Porque fazem parte do contexto. João informa que "Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos." (v.2). Quem era o convidado primário dos noivos? Maria, que muito provavelmente era parente dos mesmos. João informa que ela já estava lá desde o começo da festa, que em geral durava de três a sete dias "houve uma festa de casamento... e a mãe de Jesus estava aí." (v.1).
A resposta de Jesus a Sua mãe "Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou." (v.4) ajuda a esclarecer muitos mal-entendidos interpretativos dessa passagem. O texto original grego diz:
Em parte alguma do NT, a doutrina da intercessão de Maria se sustém. Para que esse heterodoxismo se consubstanciasse como didática apostólica, ele teria que constar no bojo teológico não só da Tradição, da Patrística e do Magistério romano, mas fundamentalmente na teologia neotestamentária. "Façam o que ele mandar." ou na ARC "Fazei tudo que ele vos disser." (v.5b), revela não só o estado de inoperância de Maria, mas o senhorio absoluto de Jesus. Ela compreendeu perfeitamente o que Ele lhe disse deixando inteiramente em Suas mãos toda a solução do problema ali iminente. Em Suas funções sacerdotais, Jesus não depende nem precisa da mediação ou intercessão de nenhum outro ser (Hb 10.21).
ti emoi kai soi (lit. "o que [isso] tem a ver comigo ou com você")
Segundo Richards (2008) Jesus poderia estar perguntando gentilmente a Maria por que ela está falando sobre uma necessidade que Ele já entendeu e pretende satisfazer. Jesus não está Se recusando a agir, mas objetando de forma respeitosa ("mulher" é uma expressão de honra na cultura judaica) a ansiedade de Sua mãe. O Senhor pronuncia uma frase idiomática que equivaleria a um eufemismo na nossa língua portuguesa. Seria o mesmo que Ele dissesse "por que me apressais", porém o faz com delicadeza e ternura a Sua mãe. O ponto controverso do romanismo esta aí.
No seu afã de exaltar o suposto papel de Maria como co-redentora, Adjutrix, mediadora de todas as graças, a igreja do papa infere absurdamente que Jesus só agiu mediante a "intercessão" de Maria. Ou que os milagres de Jesus vêm mais rápido quando ela intervém junto ao Filho. Contudo, o fato do Salvador declarar ainda não ter chegado a Sua hora nos deixa patente, não a indispensável interferência de Maria, mas a consciência da exata hora de agir do Mestre (Jo 7.1-9). Seria absurdo pensarmos no Filho de Deus relapso e tomado pela surpresa. Que houve uma intervenção de Maria, teólogo nenhum pode negar, está escrito cabalmente. Mas daí afirmar que houve uma co-mediação na ação ministerial de Cristo é andar de mãos dadas com a heresia!Em parte alguma do NT, a doutrina da intercessão de Maria se sustém. Para que esse heterodoxismo se consubstanciasse como didática apostólica, ele teria que constar no bojo teológico não só da Tradição, da Patrística e do Magistério romano, mas fundamentalmente na teologia neotestamentária. "Façam o que ele mandar." ou na ARC "Fazei tudo que ele vos disser." (v.5b), revela não só o estado de inoperância de Maria, mas o senhorio absoluto de Jesus. Ela compreendeu perfeitamente o que Ele lhe disse deixando inteiramente em Suas mãos toda a solução do problema ali iminente. Em Suas funções sacerdotais, Jesus não depende nem precisa da mediação ou intercessão de nenhum outro ser (Hb 10.21).
Nunca tinha pensado numa formar de refutar a distorção católica dessa maneira. Meu parabéns! O texto está muito bem escrito e fundamentado.
ResponderExcluirPor que a igreja católica insiste em elevar Maria a uma semideusa, em geral sempre procurando igualá-la a Cristo?
ResponderExcluirPorque ela é herdeira do antigo culto à Diana cujo templo na cidade de Éfeso foi uma das sete maravilhas do mundo antigo. A reminiscência do paganismo e a força popular da devoção a essa divindade feminina fez os bispos e doutores católicos irem forjando uma teologia "cristã" para ela com o passar dos anos.
ResponderExcluirÉ impressionante que os católicos se caracterizam muito mais por sua devoção a Maria do que a Jesus. E ainda assim afirmam que não praticam idolatria...
ResponderExcluirNão querido, vc fala o que não conhece, os católicos sabem quem salva é JESUS. Mas temos respeito a mãe de Deus...Não somos fundamentalistas, apenas percebemos todos aspectos do enredo da leitura, sem deixa na de fora. Maria só intercede não se intromete, sabemos muito bem que vinho significa alegria. Tá? Fica a dica....
ExcluirSaber que só Jesus salva e prestar culto (hiperdulia) a outro ser além de Deus é o mesmo que saber ser antiético e antiprofissional faltar serviço e por atestado sem estar doente para não ir trabalhar. Se o 'respeito' a que você se refere inclui fazer procissões com uma estátua sem vida, fazer-lhe petições, cantar-lhe louvores, acender-lhe velas e tratá-la como algo vivo, então vocês são respeitosíssimos. A perícope de João 2 não mostra essa suposta intercessão de Maria. A resposta de Jesus "Ainda não é chegada a minha hora" é a resposta de quem sabia a hora exata de agir, sem precisar do 'empurrãozinho' da sua mãe. Maria pensou no aspecto social do problema: o vexame dos noivos diante de seus convidados na falta do vinho; Jesus aproveitou o ensejo para fazer seu primeiro milagre pensando no aspecto espiritual.
ExcluirExatamente Paulo!
ResponderExcluirQual a dificuldade em entender que neste milagre, Maria pediu e Jesus atendeu, mesmo sem ser ainda a hora dele?
ResponderExcluirNão há nenhuma dificuldade, há uma clareza de que Jesus é Senhor de tudo e não precisa de bengala, sirene ou buzina para agir. Aponte-me um só texto do NT que fundamente a intercessão de Maria. Pelo contrário, vemos sempre a verdade da absoluta e exclusiva mediação de Cristo como nosso Sumo-Sacerdote (1 Tm 2.5; Hb 7.24,25).
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